Valorizar o bem comum

Em tempos de crise – e o nosso é, seguramente – são propícios à revisão de modos de ser e estar na vida. É esse, aliás, um dos méritos das crises. Obrigam a parar e a questionar e, na melhor das hipóteses, a procurar patamares superiores da existência humana, no plano pessoal e coletivo, como caminhos de superação da própria crise.

O critério do bem comum como é princípio básico de conduta pessoal e assim aferidora da economia, da política e da organização da sociedade.

Tema central do cristianismo, a noção de bem comum está intimamente ligado ao valor conferido à pessoa humana, na dupla vertente da individualidade e da dimensão relacional.

Nenhum ser humano subsiste sem o reconhecimento da sua singularidade, mas também sem a consciência e sem a experiência da sua relação com o outro, sejam os outros seres humanos mais ou menos próximos, a natureza, a cultura, a sociedade. A tal ponto assim é, que o bem individual de cada ser humano está indissociavelmente ligado ao bem de todos.

O comparativo mais eloqüente desta afirmação é a paz, sendo desejo universal que habita o coração humano, só é realizável como um bem comum.

O individualismo em que a cultura contemporânea ocidental caiu e leva a procura do meu melhor lugar nos rankings da competitividade, nos negócios como nos afetos, na empresa como na escola, na política como nas múltiplas organizações, só pode conduzir à frustração, ao desperdício de energia, à predação de recursos, ao empobrecimento recíproco, ao avolumar de tensões e, no limite, ao conflito e à guerra. A tomada de consciência deste foco de infecção da vida em sociedade deixa pressentir um desejável porto de viragem que importa acolher como nova realidade emergente portadora de futuro.

Uma tristeza a larvar que se instalou no cotidiano. O azedume traduz-se em falta de gentileza nas relações interpessoais ou nos transportes públicos, em agressividade diante de pequenas contrariedades e, muito especialmente, numa fraca disponibilidade para a cooperação na resolução dos problemas de trabalho ou mesmo de âmbito familiar. Como alguém dizia, temos a sensação de viver em sociedades que não são compostos de indivíduos que querem viver em conjunto.

Neste tempo de crise, há que fugir da tentação da conquista e do reforço das lógicas do “salve-se quem puder” que só podem levar à exclusão e ao conflito social ou seja ao aprofundamento da própria crise.

Ao invés, diria que precisamos reaprender a gostar de viver em conjunto e a re-centrar as nossas decisões pessoais e coletivas no bem comum. É uma tarefa de todos e, com maior fundamento e exigência, para quem recebeu o dom da fé num Deus que é convite perene ao Amor.

A aplicação sincera deste olhar de bem do todo fará mudar radicalmente os nossos referentes existenciais e as nossas opções em matéria de organização da vida pessoal e coletiva e abrirá rotas de futuro portadoras de vida mais harmoniosa e feliz.

Precisamos ter um outro olhar para aquilo que mais aproveita ao todo de que sou parte.

Prof. José Pereira da Silva
pereira_jose2007@hotmail.com

Fonte: Jornal O Lábaro – edição setembro/2016

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