TEMPO DO ADVENTO E SUA DUPLA CARACTERÍSTICA

Sabemos que o tempo do advento tem uma dupla característica: sendo um tempo de preparação para as solenidades do Natal, em que se comemora a primeira vinda do Filho de Deus entre os homens, também é um tempo em que, por meio desta lembrança, voltam-se os corações para a expectativa da segunda vinda de Cristo no fim dos tempos (Normas sobre o Ano Litúrgico nº 39). Portanto as quatro semanas que compõe este tempo litúrgico é dividido da seguinte forma: do primeiro Domingo do Advento até o dia 16 de dezembro, a liturgia da Igreja se reporta para a expectativa da segunda vinda de Cristo; do dia 17 até o dia 24 de dezembro a liturgia se refere diretamente à preparação do mistério do Natal do Senhor: Deus que se faz carne humana para ser um de nós em tudo a nós semelhante.

Como estas duas características são visualizadas nas celebrações litúrgicas? Creio que 4 elementos poderão dar a devida conotação para estes dois períodos distintos:

1º – Liturgia da Palavra e orações próprias da missa – As leituras e orações tanto do ofício divino quanto da celebração Eucarística expressam diretamente a dupla característica acima apresentadas: preparação para a segunda vinda de Cristo (“vigiai pois não sabeis o dia em que Ele virá” Mt 25,13) e preparação do mistério de sua encarnação entre os Homens (“Eis que virão dias, diz o Senhor, em que farei nascer um descendente de Davi”, Jr 23,5);

2º – Montagem do presépio e demais formas de decoração – Se a montagem do presépio no início do tempo do advento é “lícita”, o melhor período para sua montagem seria a partir do dia 17 de dezembro. Mesmo assim recordamos que sua finalização deverá ser apenas na véspera do Natal. O mesmo se diga de outras formas de decoração. A Igreja não pode se nortear pela onda consumista que adianta a decoração natalina para antecipar as vendas de fim de ano. O tempo do Advento é tempo em que não se enfeita a igreja com nada – exceção ao terceiro Domingo do Advento, quando se permite decorar a Igreja com poucas floras, preferencialmente rosas, segundo a cor litúrgica do dia;

3º – Homilia – É neste momento que o presidente da celebração poderá explicitar de uma forma muito oportuna as verdades contidas na Palavra de Deus e nas orações daquela celebração, ressaltando as características peculiares de cada período do tempo do Advento;

4º – Escolha dos cantos – “Então se verá o Filho do Homem, vindo sobre as nuvens com poder e glória…”; ou “Deus ama os pobres e se fez pobre em Belém, desceu a Terra e fez pousada em Belém” são dois exemplos de cantos próprios do Advento. Mas creio que podemos, na conclusão deste artigo, dispensar a explicação de quando cada um desses cantos – e outros apropriados para o Advento – deverão ser cantados ou não.

SOLENIDADES NATALINAS E MISTÉRIO PASCAL

Ressoa em nossas igrejas durante todo o tempo do Advento e Natal a profecia de Isaías (Is 7,14) confirmada pelo Evangelho segundo Mateus (Mt 1,23): “Portanto o mesmo Senhor vos dará um sinal: Eis que a virgem conceberá, e dará à luz um filho, e chamará o seu nome Emanuel, que significa “Deus está conosco”.

É consolador para qualquer ser humano saber que não estamos sozinhos em nenhuma hipótese neste mundo. Deus não é distante, é próximo, é conosco! E o início desta verdade celebramos liturgicamente no Natal. Digo “o início”, porque somente com o mistério de sua morte e ressurreição Deus se torna plenamente “Deus conosco”.

Quando o Verbo se fez carne e veio morar entre nós, ou seja, quando Jesus assume nossa condição de homem igual a nós em tudo, exceto no pecado, Ele não perde a sua condição divina, logo, Jesus é “Deus conosco”. Contudo, marcado pelos limites próprios da humanidade, Jesus não podia estar junto de todos os seres humanos contemporâneos a ele – se a onipresença é característica divina, a encarnação faz com que Jesus se despoje de qualquer privilégio ou prerrogativa de sua condição igual a Deus. Aqueles que estavam ao seu lado estavam ao lado de Deus, mas inevitavelmente a profecia de Isaias ainda não havia se realizado totalmente. A humanidade toda ainda não havia sido abraçada pelo Deus-homem Jesus Cristo.

Somente com o Corpo glorioso de Ressuscitado, carregando em si as marcas de sua paixão salvadora, é que Jesus realiza a antiga profecia de Isaías enriquecendo-a ainda mais com uma promessa que não se refere ao futuro, mas ao presente: “Eis que estou convosco todos os dias, até o fim dos tempos”: eis que Eu sou o Emanuel; eis que Deus está conosco!

Pe. Roger Matheus

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