Ser oportunidade na vida do outro

Três são os fatores que movem as transformações na vida de alguém: o esforço, a sorte histórica e a oportunidade.

O esforço é a contribuição de cada um na sua própria história. Tem a ver com a busca por algo, com o empenho suado, com a luta diária. Para a grande maioria, reles mortais, é por aí que anda a sobrevivência. Pagar as contas, ajudar os filhos, socorrer os pais idosos, correr atrás de uma bolsa de estudos, trabalhar e estudar ao mesmo tempo, etc. Nem é preciso ser ambicioso para ter que se esforçar: sobreviver já pede muita força. E quem quiser ir além disso, terá que se preparar para a luta.

A sorte histórica está relacionada com a conjuntura de uma sociedade e com a história de um povo, de uma cidade, de uma família. Há pessoas que nascem em famílias privilegiadas, que têm o que têm por conta de anos de trabalho dos antepassados, que construíram uma condição boa de vida. Outras, contudo, nascem em famílias pobres, em cidades periféricas, em países em guerra. Sua vida é pesada desde o alvorecer, sua fome é trágica e sua doença é sem solução. Não se pode negar que alguns são mais historicamente privilegiados do que outros. A questão cristã é: todo privilégio deve virar dom e serviço! Quem pode mais, tem mais e sabe mais deve socorrer os menos favorecidos, para que se cumpra o Reinado do Amor.

Já a oportunidade é um caso bem curioso. Às vezes ela surge do reconhecimento de um esforço, como honra ao mérito de alguém, e em outras, ela introduz uma sorte histórica na difícil rotina de uma pessoa sem condições. Em ambos os casos, ela é transformadora. Mais: ela é esperançadora, isto é, ela produz esperança! Um professor meu dizia: a crise da esperança é a crise das condições da esperança… se não há sinais de que posso esperar, eu desespero… mas se há sinais, eu espero, eu creio, eu persevero!

O ano da esperança é uma boa época para pensar nisso. Diante de uma cultura de mérito que exclui quem tem menos condições, dar oportunidades é uma forma de dar chances às pessoas mais vulneráveis e, com isso, de ajudar a Deus no cuidado dos Seus filhos mais sofridos. Também por conta de uma mentalidade de privilégios recheados de egoísmo, partilhar recursos, dividir saberes, fornecer meios é um jeito maravilhoso e muito cristão de vencer o mal no mundo (mal moral, mal social, mal espiritual).

Em resumo, se tem uma coisa que traz esperança é ver gente ajudando gente, é saber que ainda há mãos estendidas. O esforço depende de cada um, a sorte vem no pacote da história, mas a oportunidade… a gente que cria!

Missão do católico neste ano de 20205: ser oportunidade na vida de outros. Graças a isso, a esperança reinará.

Pe. Marcelo Henrique, reitor do Seminário de Filosofia

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