Em dezembro, celebramos a festa litúrgica da Sagrada Família; a família de Jesus, Maria e José. A esta, por excelência, cabe tal designação. Entretanto, podemos nos perguntar: o que faz uma família ser sagrada? O termo “sagrado” diz respeito àquilo que é separado do comum, do mal e da corrupção presentes no mundo, e que se refere a Deus. Tudo o que se relaciona a Deus, dizemos que é sagrado. A família é sagrada quando se volta para Deus. É sagrada quando acolhe a Deus, vive em Sua presença e de acordo com Sua vontade. A família é sagrada quando se orienta pela Palavra de Deus. Quando acolhe e respeita a vida, que de Deus procede. Quando cultiva o amor, maior mandamento que de Deus recebemos. Na exortação sobre o Amor na Família (Amoris Laetitia, cap. IV), o Papa Francisco, inspirando-se na primeira carta aos Coríntios, discorre longamente sobre o amor no Matrimônio. Recorda que o amor vivido no dia a dia é paciente, se manifesta em atitudes de serviço, supera inveja, é amável, desprendido, quer o bem do outro, tudo perdoa, tudo suporta, sempre confia. “Quem permanece no amor permanece em Deus, e Deus permanece nele” (I Jo 4,16). Cultivando o amor, a família é sagrada. “Na família, ‘como em uma igreja doméstica’ (LG, n.11) amadurece a primeira experiência eclesial da comunhão entre as pessoas, na qual, por graça, se reflete o mistério da Santíssima Trindade” (AL, n. 86).
A família é sagrada quando vive e transmite a fé. A fé é dom de Deus concedido a todos. Quem acolhe esse dom, orienta a vida em atenção a Deus e manifesta a fé por suas atitudes. A fé é opção de orientar a vida não simplesmente por aquilo que vemos, que queremos, que nos interessa ou convém, mas por Deus e por tudo aquilo que Ele nos revelada e nós cremos. Viver a fé se traduz no empenho de conformar a vida à vontade de Deus e isso inclui também transmiti-la às novas gerações quer pelo exemplo, quer pela instrução.
A família é sagrada quando dá atenção à Palavra de Deus. Palavra que expressa a vontade do Senhor e nos revela o sentido mais profundo de nossa existência, o que nos realiza e nos faz felizes. Maria Santíssima, ao acolher a Palavra que lhe foi dirigida, “conservava todas essas coisas e as guardava em seu coração” (Lc 2,19). Assim, Maria é exemplo de quem acolhe a Palavra de Deus em toda sua plenitude e vive, coerentemente, o que acolheu.
A oração também faz a família sagrada, sobretudo a oração que brota da contemplação da vida de Jesus e da meditação de sua Palavra. Essa oração aproxima de Deus com intimidade e profundidade, faz viver em sua presença; deve ser ensinada e cultivada em família. “A casa de Nazaré, com efeito, é uma escola de oração onde se aprende a escutar, a meditar e a compreender o significado profundo da manifestação do Filho de Deus, tendo como exemplo Maria, José e Jesus” (Bento XVI, 28/12/2011). Segundo a tradição judaica, cabia ao homem conduzir a oração doméstica (cf. Ex.12,26). Com certeza São José cumpriu essa função na família de Nazaré.
Reproduzo aqui significativas palavras de Bento XVI sobre a oração em família. “A Sagrada Família é ícone da Igreja doméstica, chamada a rezar unida. A família é Igreja doméstica, e deve ser a primeira escola de oração. Na Família, desde a mais tenra idade, as crianças podem aprender a compreender o sentido de Deus, graças ao ensinamento e ao exemplo dos pais: viver numa atmosfera marcada pela presença de Deus. Uma educação autenticamente cristã não pode prescindir da experiência da oração. Se não se aprende a rezar em família, será difícil depois conseguir preencher esse vazio. Gostaria, pois, de convidá-los a redescobrir a beleza de rezar juntos como família, na escola da Sagrada Família de Nazaré. E assim, a se tornarem de fato um só coração e uma só alma, uma verdadeira família” (AG 28 dez.2011). Peço aos Ministros Ordenados e aos Fiéis desta Diocese que, insistentemente, incentivem e promovam a oração em família a partir da leitura, reflexão e partilha da Palavra de Deus. Que nossas famílias sejam sagradas, que acolham a Deus e sejam por Ele conduzidas, protegidas, amparadas e, assim, muito felizes!
Dom Wilson Angotti
Bispo da Diocese de Taubaté
Fonte: Jornal O Lábaro – dezembro/2016