Junho é o mês em que comemoramos São Pedro e o dia do Papa, sucessor de Pedro. Há pouco tempo, um jovem me perguntou qual Papa eu gostava mais? Uma pergunta que em outros tempos poderíamos responder tranquilamente; hoje, porém, devido a grupos ultraconservadores e até sede-vacantistas (que consideram vacante a sede petrina), temos que ter cautela. Há quem diga que esse ou aquele Papa não o representa. Diante da pergunta, respondi que gosto do Papa atual, pois só temos um Papa! Aproveitei a ocasião para mostrar que, do grupo dos apóstolos, Jesus escolheu aquele que ele quis. Quem sabe algum “rebelde contestador” daquela época tenha pensado: por que o Senhor não escolheu um dos escribas, que eram estudiosos e conhecedores da Sagrada Escritura? Ou um dos fariseus, que eram zelosos observantes da lei mosaica, e tinham o propósito de serem exemplos para os outros. Não seria melhor se Jesus tivesse escolhido uma pessoa influente da sociedade como Nicodemos ou alguém que se destacasse no judaísmo como um Sumo Sacerdote? Será que um desses não teria sido uma escolha melhor para Jesus colocar à frente de sua Igreja, ao invés de um rude e, talvez, iletrado pescador? Mas Jesus escolheu quem ele quis. Assim também o Senhor continua a escolher hoje, pela ação do Espírito Santo, prometido e enviado para assistir a Igreja. Não aceitar isso corresponde a negar que Deus conduza sua Igreja. A pessoa escolhida para dirigir a Igreja de Cristo não é alguém para agradar a esse ou a aquele grupo, mas é fruto da vontade divina, que conduz a história. A decisão dessa escolha, na Igreja, não se dá como fruto de uma campanha política. É fruto de um discernimento que se dá em um contexto de oração, diante de Deus, buscando identificar quem melhor poderá desempenhar a função e melhor responder aos desafios da época. Assim, o Senhor vai conduzindo sua Igreja, mediante as escolhas que são feitas, com o intuito de discernir a vontade de Deus, atentos às suas inspirações.
Humanamente falando, qualquer que seja o papa escolhido pode mesmo agradar mais a uns que a outros; porém, nunca a ponto de fazer oposição a quem foi legitimamente escolhido ou a ponto de dizer “esse Papa não me representa”. Isso corresponde a contrapor-se a Deus. “Não vos arrisqueis em resistir ao próprio Deus” (At.5,39). Pessoas ou grupos que chegam a esse ponto já não se constituem como membros da Igreja. Com tal atitude, de fato, já se colocaram fora da comunhão eclesial. Quem não está com o sucessor de Pedro e sob ele, de fato, já não está na Igreja de Cristo. Ao longo da história da Igreja, num momento ou noutro, grupos desse tipo surgiram e desapareceram. Atualmente, existem grupos que contestam o Concílio do Vaticano II, convocado pelo papa São João XXIII, em 1962, e concluído com o papa São Paulo VI, em 1965. Alguns desses grupos são cismáticos, outros contestam alguns aspectos de mudanças introduzidas pelo Concilio. Concílio que foi o maior da história e reuniu mais de dois mil bispos de todas as partes do mundo. Após o período da cristandade, buscando responder aos desafios do nosso tempo, o Concílio Vaticano II buscou soluções fazendo a Igreja voltar-se ao essencial, buscando esses valores fundamentais em suas origens bíblica, litúrgica e patrística. Assim, a Igreja buscou superar elementos temporais, próprios de um ou outro momento histórico, a fim de redescobrir e valorizar o essencial de sua vida e missão. A Igreja não mudou seus valores, pelo contrário, voltou-se ao que era primordial. Esse foi o intuito do Concílio Vaticano II. Diante disso, alguns grupos se contrapuseram de maneira cismática, separando-se da Igreja; outros, sem se separar, contestaram aspectos do “aggiornamento” ou atualização da Igreja. Tais contestações se evidenciam especialmente em questões litúrgicas e em concepções sobre a Igreja e sua missão no mundo. Interessante é que essa “saudade do passado” se dá, sobretudo, entre aqueles que não viveram antes do Concílio. Em geral, são pessoas que têm saudade do que não conheceram nem viveram. Muitos deles são doutrinados por influenciadores digitais que divulgam suas concepções em cursos que se difundem e multiplicam pela internet.
Ao contestarem o Magistério (ensinamento oficial) da Igreja, contrapondo-se a bispos, a conferências episcopais, a concílios e até mesmo ao papa entregam-se cegamente ao “magistério” que escolheram segundo suas próprias convicções. Não buscam o que é expressão de fidelidade ao Evangelho, à Tradição secular da Igreja, ao ensinamento Pontifício, mas ao que agrada aos próprios ouvidos. “Levados pelas próprias paixões e pelo prurido de escutar novidades, buscarão mestres para si. Apartarão os ouvidos da verdade e se atirarão ao que lhes agrada ouvir” (IITm.4,3-4). Rejeitam o Magistério oficial da Igreja (do Papa e dos bispos), estabelecido por Cristo e adotam para si um magistério particular de alguém que diz o que querem ouvir. Na raiz de tudo isso está a busca de si, da “verdade” pessoal, do que agrada a cada um. Relativiza-se a verdade enquanto a concepção de cada pessoa é elevada à verdade incontestável e absoluta. É nesse contexto que se coloca e se entende a extensão da pergunta: de qual papa você gosta mais?
Dom Wilson Angotti
Bispo Diocesano