Cidade do Vaticano (RV) – Juventude, terrorismo, Turquia, Venezuela: estes foram alguns dos temas da coletiva de imprensa que o Papa tradicionalmente concede ao final de suas viagens. De Cracóvia ao Vaticano, Francisco respondeu às perguntas dos jornalistas, recordando logo no início a morte de uma colega, italiana Anna Maria Bianchini Jacobini, que morreu em Cracóvia enquanto fazia a cobertura da viagem.
Polônia
A primeira questão foi justamente como Francisco viveu esses dias na Polônia, “invadida” desta vez pelos jovens. “O povo polonês é muito entusiasta. Esta noite, com a chuva, pelas ruas havia não somente jovens, mas também velhinhas. É uma bondade, uma nobreza. Eu tive uma experiência com poloneses quando era criança: onde trabalhava meu pai, muitos poloneses vieram depois da guerra. Eram pessoas boas e isso ficou no coração. Reencontrei esta bondade. Uma beleza…obrigado!
Jovens
Eu gosto de falar com os jovens. E gosto de ouvi-los. Sempre me colocam em dificuldade, porque dizem coisas às quais eu não pensei ou que pensei pela metade. Os jovens inquietos, os jovens criativos… Eu gosto e dali adquiro a linguagem. Muitas vezes me pergunto: “Mas o que significa isto?”. E eles me explicam. O nosso futuro é com eles, e devemos dialogar. É importante este diálogo entre passado e futuro. É por isso que destaco tanto a relação entre os jovens e os avós, e quando digo “avós” entendo os mais velhos e os nem tanto, mas eu sim… Para dar também a nossa experiência, para que sintam o passado, a história e a retomem e a levem avante com a coragem do presente, como disse esta noite. É importante. Importante! Eu não gosto quando ouço: “Mas esses jovens dizem besteiras!”. Mas também nós dizemos muitas, eh! Os jovens dizem besteiras e dizem coisas boas: como nós, como todos. Mas ouvi-los, porque devemos aprender deles e eles devem aprender conosco. É assim. E assim se faz a história e assim se cresce sem fechamentos, sem censuras.
Crise turca e silêncio do Papa
Quando tive que dizer algo de que a Turquia não gostava, mas da qual eu estava certo, eu disse, com as consequências que vocês conhecem. Não falei porque ainda não estou certo, com as informações que recebi, do que está acontecendo ali. Ouço as informações que chegam à Secretaria de Estado, e também aquelas de algum analista político importante. Estou estudando a situação com os assessores da Secretaria de Estado e a coisa ainda não está clara.
Novas denúncias contra o Cardeal Pell
As primeiras notícias que chegaram eram confusas. Eram notícias de 40 anos atrás e nem mesmo a polícia deu atenção num primeiro momento. Uma coisa confusa. Depois, todas as denúncias foram apresentadas à Justiça e neste momento estão nas mãos da Justiça. Não se deve julgar antes que a Justiça julgue. Se eu desse um juízo a favor ou contra o Cardeal Pell, não seria bom, porque julgaria antes. É verdade, existe a dúvida. E há aquele princípio claro do Direito: in dubio pro reo. Devemos aguardar a Justiça e não fazer antes um juízo midiático, porque isso não ajuda. O juízo das fofocas, e depois? Não se sabe como acabará. Estar atentos àquilo que a Justiça decidirá. Uma vez que a Justiça falar, falarei eu.
Queda
Eu estava olhando para Nossa Senhora e esqueci do degrau… Estava com o turíbulo na mão… Quando percebi que estava caindo, me deixei cair e isso me salvou. Porque se tivesse resistido, teria tido consequências. Nada. “Esto fenomeno!” [Estou beníssimo!]
Mediação vaticana na Venezuela
Dois anos atrás, tive um encontro com o presidente Maduro, muito muito positivo. Depois ele pediu uma audiência no ano passado: era um domingo, um dia depois da minha chegada de Sarajevo. Mas depois ele cancelou aquele encontro porque tinha uma otite e não podia vir. Depois disso, deixei passar um pouco de tempo e lhe escrevi uma carta. Houve contatos para um eventual encontro. Sim, com as condições que se fazem nesses casos. E se pensa neste momento – mas não estou certo e não posso garantir isso, é claro? Não estou certo de que no grupo da mediação alguém – e nem sei se o próprio governo – quer um representante da Santa Sé. Não estou certo. No grupo estão Zapatero da Espanha, Torrijos e outra pessoa, e a quarta se falava da Santa Sé. Mas isso não tenho certeza…
Assassinato de Padre Jacques Hamel e “violência islâmica”
Eu não gosto de falar de violência islâmica, porque todos os dias quando leio os jornais vejo violências aqui na Itália: quem mata a namorada, outro que mata a sogra… E estas pessoas são violentos católicos batizados, eh! São católicos violentos… Se eu falasse de violência islâmica, deveria falar também de violência católica. Nem todos os islâmicos são violentos; nem todos os católicos são violentos. É como uma salada de frutas: tem tudo dentro; há violentos dessas religiões. Uma coisa é verdade: creio que em quase todas as religiões exista sempre um pequeno grupo fundamentalista. Fundamentalista. Também nós temos isso. E quando o fundamentalismo chega a matar – mas se pode matar com a língua, e isso o diz o Apóstolo Tiago e não eu, e também com a faca – creio que não seja justo identificar o Islã com a violência. Isto não é justo e não é verdadeiro! Tive um longo diálogo com o Grande Imã da Universidade de al-Azhar e sei o que eles pensam: buscam a paz, o encontro. O Núncio de um país africano me dizia que na capital há sempre uma fila de gente – está sempre cheio! – na Porta Santa para o Jubileu: alguns se detém nos confessionários, outros rezam nos bancos. Mas a maioria vai para frente, avante, para rezar no altar de Nossa Senhora: esses são muçulmanos que querem fazer o Jubileu. São irmãos. Quando estive na Rep. Centro-Africana, estive com eles e o imã também subiu no papamóvel. Pode-se conviver bem. Mas há grupos fundamentalistas. E me pergunto também quantos jovens – quantos jovens! – que nós europeus deixamos vazios de ideais, que não têm trabalho, que usam droga, álcool ou vão lá e se alistam em grupos fundamentalistas. Sim, podemos dizer que o chamado Isis é um Estado Islâmico que se apresenta como violento, porque quando nos mostra a sua carteira de identidade nos mostra como degola os egípcios na costa líbica ou outras coisas. Mas este é um grupo fundamentalista, que se chama Isis. Mas não se pode dizer – creio que não seja verdadeiro e não seja justo – que o Islã seja terrorista.
Iniciativas concretas contra o terrorismo
O terrorismo está em todos os lugares! Pense no terrorismo tribal de alguns países africanos… O terrorismo – não sei se dizê-lo, porque é um pouco perigoso… – cresce quando não há outra opção, quando no centro da economia mundial há o deus dinheiro e não a pessoa, o homem e a mulher. Este é o primeiro terrorismo. Expulsou as maravilhas da Criação, o homem e a mulher, e colocou ali o dinheiro. Este é terrorismo de base contra toda a humanidade. Pensemos nisso.
Panamá
Um jornalista panamenho presentou o Papa com uma camisa com o número 17, sua data de nascimento, e o “sombrero” usado pelos camponeses do país, pedindo uma saudação ao povo e afirmando que os panamenhos o aguardam. E o Papa respondeu: “Se eu não estiver, irá Pedro. Aos panamenhos, muito obrigado. Faço votos de que se preparem bem, com a mesma força, a mesma espiritualidade e a mesma profundidade com a qual os poloneses e os habitantes de Cracóvia se prepararam.”
Ao final da coletiva, com um bolo, o Pontífice agradeceu a dois colaboradores que encerraram seu trabalho com esta viagem à Polônia: Pe. Federico Lombardi, Diretor da Sala de Imprensa, e o Sr. Mauro, que foi responsável pelas bagagens dos voos papais por 37 anos.
Fonte: Rádio Vaticano
Foto: ANSA