O perfil interior de São José: exemplo de vida interior

A “religiosa escuta da palavra de Deus”, que o Concílio Vaticano II aponta para toda a Igreja (Dei Verbum, n.1), encontra-se encarnada em São José já no princípio da redenção do homem (Redemptoris Custos, n.30).

A possibilidade desta exemplar religiosa escuta é indicada pelo Santo João Paulo II no “clima de silêncio, que acompanha tudo aquilo que se refere à figura de José. Trata-se, porém, de um silêncio que desvenda de modo particular, o perfil interior desta figura.  Os evangelhos falam exclusivamente daquilo que José Faz; todavia, permitem-nos auscultar em suas ações envolvidas de silêncio, um clima de profunda contemplação” (Redemptoris Custos, n.25).

O que é a contemplação? As definições que as diversas escolas teológicas dão sobre contemplação são várias, cada uma com seu fascínio. Um elemento, todavia, por todos privilegiado é aquele do amor. “contemplação é ciência do amor”, afirma São João da Cruz. O amor é indispensável para contemplação, circunscreve-a por todos os lados como fonte e fruto, causa e efeito.  O amor conduz à contemplação e, por sua vez, a contemplação desenvolve o amor.

Tratando-se do amor divino, este está todo pontualizado na pessoa do Filho e concentrado na sua humanidade concebida por obra do Espírito Santo (Mt 1,18-20).

Devemos observar que em São José esta experiência amorosa da presença de Jesus não acontecia de vez em quando (quando ele queria), sendo ele indissoluvelmente unido ao dom da paternidade, que Deus tinha-lhe comunicado, conferindo-lhe a missão de pai: “Com a autoridade paterna sobre Jesus, Deus conferiu a José também o amor correspondente, aquele amor que tem a sua fonte no Pai ‘do qual toma nome toda paternidade nos céus e sobre a terra’ (Ef 3,15)” (Redemptoris Custos, n.8).

Devemos observar, além disso, que “visto que o amor paterno de José não podia não influenciar sobre o amor filial de Jesus e, vice-versa, o amor filial de Jesus não podia influenciar sobre o amor paterno de José, como penetrar na profundidade deste relacionamento todo particular? As almas mais sensíveis aos impulsos do amor divino, vêem com razão em José um luminoso exemplo de vida interior” (Redemptoris Custos, n.27).

Para nós é difícil compreender a amplidão e a profundidade do conhecimento concedido a São José na contemplação da própria “Verdade”, que morava na sua casa. A bem-aventurança concedida pelo Pai aos discípulos de Jesus, para que conhecessem os mistérios do reino dos céus (Mt 13,11-17), não pode ser negada por Deus àquele que na terra representava, como justamente afirmou São Bernardo: “O Senhor encontrou José segundo seu coração e lhe confiou com plena segurança o mais misterioso e sagrado segredo de sue coração. A ele revelou a obscuridade e os segredos de sua sabedoria, possibilitando-lhe de conhecer o mistério desconhecido por todos os príncipes deste mundo” (Homilia Super issus est, 2, 16, PL,183,70).

João de Cartagena (+1617) ilustra a íntima harmonia entre a ação e contemplação, unificadas em São José pelo seu amor a Jesus: ”Visto que José tinha dedicado por trinta anos todas as atividades exteriores e os trabalhos manuais para nutrir e sustentar a infância, adolescência e a juventude de Cristo Senhor, não pode a sua vida ativa, exceto a Virgem, ser a mais perfeita de todas… Por isso, ninguém, exceto a Mãe de Deus, tanto quanto José, Jesus poderá dizer: ‘Tive fome e me destes de comer; tive sede e me destes de beber’ (Mt 25,35-37). Destas obras exteriores é fácil dar o passo às obras interiores da vida contemplativa, de cujo exercício ninguém, sem dúvida, entre os mortais, exceto a Bem-aventurada Virgem, teve uma mais oportuna possibilidade” (Lib, 4 hom.8 in J. Vives, Summa Josephina).

A respeito os outros santos contemplativos, “São José os superou todos na excelência da vida contemplativa por que a respeito deles era mais ardentemente inflamado em seu exercício pelo exemplo visível Cristo e de Maria e pela ininterrupta presença deles por trinta anos, assim como era frequentemente ajudado pela poderosa ajuda deles para realizar ferventíssimos atos de amor” (Lib,4 hom.8 in J. Vives, Summa Josephina).

O amor paterno de José por Jesus tem uma analogia somente com o amor materno de Maria, do qual forma o natural complemento, desejado pelo decreto da encarnação, que constituía José e Maria pais (Lc 2,27.41) de Jesus.

Prof. Dr. José Pereira da Silva

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