Natal que murcha, Natal que sobra

Natal chegando, e os enfeites… bem, parece que de uns anos para cá os enfeites diminuíram bem, seja na fachada das residências, seja nas praças públicas, seja nas igrejas.

Há o preço dos adereços, é verdade, sempre mais caros e mais fajutos. Material bom, durável e com boa apresentação virou material de luxo. Lojas de produtos natalinos acumulam a função de comércio de fim de ano e “mini Guararema”, onde se vai para passear, sem levar nada para casa e sem gastar com o deslocamento para outra cidade. Já há presépios tão pequenos que cabem numa caixinha de aliança. Se não tiver uma lupa junto, mal se vê o menino Jesus. O bom é que rende para as óticas: quem não vê bem de perto já faz o seu “exame” ali, adorando a microscópica manjedoura.

As árvores de natal estão sofrendo as recessões financeiras. De gordas e felpudas se tornam mirradas e pontiagudas, cactos com harmonização facial. Estica aqui, repuxa ali e, no cálculo geral, “não ficou tão feia assim”.

Recordo de uma ocasião que, em uma igreja, colocaram um pinheiro de verdade, cortado só para a ocasião. Depois de um trabalhão e muita sujeira no chão da capela, lá estava ela, linda, imponente, toda luminosa com as bolinhas e as luzes que piscam. Também o cheiro mentolado das folhas recendeu por um tempo. Poucos dias, porém, lá estava um trapo de árvore, murcha, feia, com aspecto de velha. O chão estava repleto de folhas secas. O charme se foi rápido. Nesse sentido, as árvores de plástico ainda são importantes: elas conservam a beleza, mesmo que de plástico.

No presépio, cada vez menos animais e folhagens. Jesus não deve ser do Agro. Restaram as figuras sem palco ou com cenários furrecas. Não tá fácil nem para a Sagrada Família. Parece quando a gente ganhava os bonecos da Playmobil, mas só vinham alguns personagens e a gente não tinha dinheiro para comprar o resto. O pirata ficava sem barco e o médico sem hospital. Agora, no oratório de natal, Jesus está quase fazendo monólogo: nasce sem mãe, sem pai, sem cocho… como a casa muito engraçada, que não tinha teto, não tinha nada.

A sensação que dá é mista. Os rituais domésticos de natal vão murchando, como a árvore; o presépio fica tão simbólico que daqui há pouco vira só uma logomarca; o preço alto de tudo impede até de comer bem. Vai restando pouco.

Talvez, vai restando só a missa e o mistério, o amor de Deus pelos pobres e a caridade entre algumas pessoas.

Pensando bem, se ao menos isso se mantiver, algo ainda se salva.

Pe. Marcelo Henrique, reitor do Seminário de Filosofia

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