“Os homens jamais fazem o mal tão completamente e com tanta alegria como quando o fazem a partir de uma convicção religiosa” (Blaise Pascal, filósofo francês).
Observando a vida diária de nossas comunidades e aquelas de outras igrejas e religiões podemos, infelizmente, comprovar a verdade enunciada por Pascal. Sem estender o juízo a todos aqueles que creem, não se pode negar que há pessoas que, em nome de sua fé, agem com enorme potencial destrutivo. Buscando defender irrazoavelmente seu credo e colocando argumentos teológicos acima do valor da vida humana, desrespeitam moral e fisicamente aqueles que são filhos do mesmo Deus, seus irmãos. Tendo em vista esses e outros fatos, a Igreja motiva todos os anos, na semana que antecede a solenidade de Pentecostes, a Semana de orações pela Unidade dos Cristãos, conclamando todos os fiéis a uma vivência mais tolerante e fraterna com os irmãos de outras comunidades eclesiais.
Todos temos uma história para contar: de um vizinho que não fala com o outro, de uma briga no supermercado, de uma discussão na fábrica ou num almoço de família… desavenças causadas por diferença de religião. Os telejornais cariocas já falam de facções criminosas com bandeira cristã: um grupo é da igreja X o outro é da igreja Y. Não bastasse a selva que é sobreviver no mundo do crime, as religiões são agora instrumentalizadas como armas ideológicas. No Oriente se observa o nível de crueldade a que se pode chegar em nome de Deus: cristãos dilacerados simplesmente por serem cristãos. Até mesmo entre pastorais e movimentos católicos, às vezes, encontramos um pensamento velado que diz “o meu jeito de rezar pra Deus é ‘mais certo’ que o jeito do outro”. As conseqüências disso são: o orgulho espiritual, a superioridade farisaica, o menosprezo do diferente, a egolatria. Está feita a confusão!
A culpa é de quem? De Deus? Obviamente que não. Sendo sensatos com Ele, sabendo que Ele é sumamente Bom e Santo, não é possível responsabilizá-lo pelos crimes de natureza religiosa cometidos pelos homens. Concorde-se ou não, o fato é que Deus sempre conduz os homens, mas não prescindindo do bom senso dos próprios homens. Se estes não escolhem o Deus da vida, amigo da família humana, misericordioso, preferindo antes um Deus combativo, vingativo e destruidor dos que não são da mesma religião que a sua, naturalmente a “religião” será um sinônimo de “violência”. Já faz tempo que a Igreja Católica não admite a intolerância religiosa – basta ler os documentos do Concílio Vaticano II. Ela, realmente, não é bem vinda na família de Deus.
“Primeirar” na tolerância e no diálogo, eis o convite para todos os que seguem Jesus.
Pe. Marcelo Henrique
Fonte: Jornal O Lábaro – edição maio/2016