Igreja ministerial: converter mentalidades para ter novas atitudes.

Há algumas palavras que, conforme são empregadas, necessitam ser muito bem explicadas quanto ao seu sentido. “Ministério” é uma delas, sem dúvida. O termo, que chega aos ouvidos tanto para definir as repartições de um governo quanto para explicitar realidades ligadas à vida religiosa é, no mínimo, polissêmico, isto é, traz consigo muitos sentidos e significados.

No ambiente religioso cristão, em geral, e no católico romano, em específico, o termo é quase tão comum quanto confuso em relação ao sentido mais adequado com que se deve compreendê-lo.

Em sua origem religiosa e cristã, o termo ministério está essencialmente ligado a serviço. Contudo, o desenrolar da história trouxe diferentes aplicações do termo, camuflando o seu sentido mais primevo e essencial. Nas voltas que a História dá, o que surge como uma identidade de todos os membros da comunidade cristã desde as suas origens foi se tornando, com o peso da passagem dos séculos, algo exclusivo do clero.

Entretanto, numa sadia empreita de retorno à essencialidade das origens, sobretudo num passado recente, nas décadas seguintes ao Concílio Vaticano II, a Igreja tem procurado redescobrir a riqueza do termo e torná-lo mais familiar aos ouvidos dos católicos, reapresentando-o não como uma novidade, visto que se trata de algo inerente às primeiras comunidades cristãs, mas, sim, como uma forma de fazer acontecer na vida pessoal dos fiéis e também na vida comunitário-eclesial deles a configuração a Cristo, que não veio para ser servido, mas para servir.

Entretanto, o esforço empreendido pela Igreja nas últimas décadas confronta-se com um problema grave: o conceito ter sido reapresentado e, consequentemente, explicado e explicitado, não basta para que mentalidades sejam renovadas e surjam atitudes novas em acordo com elas.

Daí que, infelizmente, é muito comum perceber que o uso do termo ministério, com espantosa facilidade, é agregado à noção de poder e de ostentação dentro das comunidades – exatamente o contrário do que espera. Os exemplos nada louváveis de cenários assim se legitimam, tristemente, com o envolvimento de uma poderosa mídia em torno dos “ministérios” que vão se tornando, em alguns casos mais acentuados, um verdadeiro palco para se ostentarem egos inflados.

A iniciativa do Papa Francisco de instituir, formalmente, o ministério de Catequista na Igreja atual, revivendo uma prática que já se viu na Igreja primitiva, encontra esses desvios do sentido real da ministerialidade da Igreja como um desafio a ser superado: antes que se criem mais ou novos conflitos em razão disso, é urgente transformar o slogan “por uma Igreja toda ela ministerial” em mentalidade e, sobretudo, em atitude, o que exige conversão.

A Igreja tem ministérios para que sua função, que é um grande “ministério” (serviço) prestado a Deus e à humanidade, no meio da qual ela deve ser um sinal (sacramento) da salvação, possa ser melhor exercida. Uma Igreja servidora é consciente de sua origem, de sua missão e de seu destino. Imersos nesse mistério, os cristãos católicos não terão tempo para perder com a ostentação de um título, mas haverão de se empenhar em pôr em prática uma mentalidade convertida: servir a Cristo, como Cristo e por causa de Cristo, independente do modo como a Igreja acolha o ministério a que cada qual se dedica (ministérios reconhecidos, confiados e instituídos – detalhes perante a essência do que é um ministério!).

A beleza do ministério e do ser ministerial necessita, para aparecer e brilhar no hoje da Igreja, de uma verdadeira purificação: é preciso expurgar das mentes e dos corações tudo aquilo que, sendo mundano, não condiz com o Evangelho de Jesus Cristo e com o seguimento d’Ele. Do contrário, é grande e perigosa a chance de uma batalha cruel de egos inflados, de um lado, contra ressentimentos não resolvidos, do outro. E isso pode ser qualquer coisa, menos uma Igreja ministerial como Cristo Jesus deseja e espera que seja a sua…

Pe. Celso Luiz Longo

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