No quarto domingo da Páscoa celebramos o domingo do Bom Pastor e, com esta motivação, há mais de cinquenta anos, a Igreja dedica esse dia, de modo especial, à oração pelas vocações sacerdotais, religiosas e missionárias. A palavra “vocação” vem do latim “vocare” que significa chamar. A própria Igreja é assembleia, ou seja, comunidade de pessoas chamadas, convocadas. Podemos dizer que a Igreja é um povo-com-vocação.
Quem chama é Deus. Chama todos à existência, à fé, ao seguimento como discípulos, à santidade, às diversas vocações específicas. Estas, quando provenientes de Deus, sempre se concretizam em serviço. Cabe a cada um responder ao chamado de Deus. Diante do Deus que chama, não podemos ficar indiferentes ou nos negar a dar uma resposta. Dependendo da maneira como respondemos, demonstramos nossa atenção e nosso amor a Deus e ao próximo. A Igreja reza pelas vocações para que possamos responder bem aos apelos de Deus. Existe uma variedade de serviços aos quais somos chamados e, através dos quais, cada um coloca os dons que recebeu à disposição dos outros.
Deus não nos chama de maneira espetacular; manifesta-se de maneira simples no cotidiano de nossa existência. Para perceber suas manifestações devemos aguçar a sensibilidade e nos fazer atentos às moções interiores, ao que Ele nos inspira, às capacidades que temos, às necessidades do mundo que nos cerca, etc. Através desses elementos, Deus nos faz perceber o que espera de nós e como podemos oferecer nossa contribuição para o bem da humanidade e para a edificação de seu Reino. É assim que Deus nos chama. Toda escolha do caminho que vamos seguir, implica reflexão, discernimento e o apoio da oração, para quem quer fazer de sua vida uma resposta aos apelos de Deus. Como seria bom se toda escolha do caminho a seguir ou da profissão a exercer correspondesse verdadeiramente a uma vocação e não fosse meramente busca egoísta de interesses menores, como ter prestígio, reconhecimento, poder, dinheiro, etc.
Considerando vocações específicas no âmbito eclesial podemos destacar a dos cristãos leigos, a dos religiosos e a dos ministros ordenados, que são os diáconos, os presbíteros e os bispos. Somos todos chamados a seguir Jesus como discípulos. No evangelho, temos exemplo de como Jesus chamava e como era seguido por muitos. Sentir-se chamado ao seguimento de Jesus e responder a isso, em qualquer dessas vocações no âmbito eclesial é um dom maravilhoso que Deus nos concede. Viver como cristão na Igreja é uma graça de Deus, um dom de sua misericórdia que, dirigindo-nos o olhar, nos chama a estar Consigo, a fazer parte de Sua família. Em meio a comunidade de seus discípulos Jesus chamou alguns a consagrarem a vida a serviço dos irmãos. Jesus chamou os que Ele quis. Dentre todos os discípulos, chamou os setenta e dois e lhes confiou um serviço, chamou os doze e os enviou em missão, chamou Pedro a quem confiou um encargo especifico. Além de chamar, Jesus ensina a comunidade a pedir operários para a messe, dizendo que a colheita é grande, mas os operários são poucos (cf.Mt 9,38).
A Igreja não pede a Deus que envie operários à sua Igreja; Ele sabe das necessidades que ela tem. O que a Igreja pede é que toda pessoa chamada responda generosamente ao chamado do Senhor. Atualmente, Deus não parou de chamar. Muitos, levados pela insensibilidade, deixaram de ouvir e de responder ao chamado. Por isso, a Igreja ampara com suas preces àqueles que estão discernindo o chamado, para que possam perceber o que Deus espera deles e respondam adequadamente. A comunidade pede para que os chamados não tenham medo de entregara vida a serviço de Deus e de seu Povo. Pede que, diante do chamado de Deus, ninguém hesite ou ignore. Vamos, pois, rezar pedindo ao Senhor que, de nossas comunidades e de nossas famílias, muitos possam atender ao Seu chamado. Que muitos dediquem a vida a Deus e aos irmãos. Rezemos pelas vocações.
Todos os anos, por ocasião do Domingo do Bom Pastor, o Papa dirige à Igreja uma mensagem e propõe uma oração. Neste ano, unidos ao Papa Francisco, rezemos:
Pai de misericórdia, que destes o vosso Filho pela nossa salvação e sempre nos sustentais com os dons do vosso Espírito, concedei-nos comunidades cristãs vivas, fervorosas e felizes, que sejam fontes de vida fraterna e suscitem nos jovens o desejo de se consagrarem a Vós e à evangelização. Sustentai-as no seu compromisso de propor uma adequada catequese vocacional e caminhos de especial consagração. Dai sabedoria para o necessário discernimento vocacional, de modo que, em tudo, resplandeça a grandeza do vosso amor misericordioso. Maria, Mãe e educadora de Jesus, interceda por toda comunidade cristã, para que, tornada fecunda pelo Espírito Santo, seja fonte de vocações autênticas para o serviço do povo santo de Deus.”
Dom Wilson Angotti
Bispo da Diocese de Taubaté
Fonte: O Lábaro – edição abril/2016