Toda atividade pastoral da Igreja tem em vista a realização da missão recebida de Jesus: “Ide e fazei discípulos todos os povos, batizando-os em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Ensinai-os a observar tudo o que vos mandei” (Mt 28,19-20). Deste modo, para sermos fiéis à missão, toda ação realizada pela Igreja deve ser EVANGELIZADORA, ou seja, deve ser anúncio da Palavra de Deus com o objetivo de ensinar e fazer discípulos. Nisto se resume a missão da Igreja e para isso tem que se orientar todas as suas instâncias, todos os seus trabalhos pastorais, movimentos, associações, etc.
Em decorrência desta missão recebida do Senhor, podemos dizer que a Igreja existe para evangelizar; é, portanto, uma Igreja missionária. A missão constitui o próprio ser da Igreja, sua essência mais profunda. Se deixasse de evangelizar ela perderia sua razão de existir. Em todos os tempos e lugares, a Igreja continua a missão de Jesus, que disse: “Como o Pai me enviou, eu também os envio” (Jo. 20,21). Até mesmo a celebração dos Sacramentos constitui-se como ato segundo em relação ao dever de anunciar, de formar na fé e fazer discípulos, pois os Sacramentos são o alimento de quem já é cristão. A igreja que vive somente em função dos Sacramentos e de alimentar a vida cristã realiza só parte da missão; conserva ou mantém os fiéis, mas não é a Igreja missionária e em saída, dinâmica, que somos chamados a ser.
A missionariedade é o meio que nos é indicado para renovar e revitalizar a Igreja; é a volta ao essencial. O Papa São João Paulo II, na Redemptoris Missio, dizia que a missão renova a igreja, revigora sua fé e firma sua identidade, transmite-lhe novo entusiasmo e novas motivações. É transmitindo a fé que a Igreja se fortalece. O empenho pela missão nos livra da tentação estéril de viver com saudades das glórias de um passado que não volta, e também a faz superar o pessimismo e o desânimo pastoral que surgem frente aos desafios que enfrentamos. A missão renova e fortalece a Igreja e a faz reafirmar sua identidade mais profunda.
As Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil (DGAE 2019-2023) nos levam a considerar a imagem da “casa” como lugar de convivência da família cristã, como berço ou lugar de iniciação da fé e da vida cristã. É no ambiente da família que a fé deve ser inicialmente experimentada e transmitida e onde a vida cristã deve ser iniciada. Nesse sentido, também a família se constitui como “comunidade missionária”; comunidade que recebeu e que transmite a fé. Nesses dois últimos anos, nossa Diocese tem procurado formar a consciência das famílias cristãs acerca dessa responsabilidade, insistido nos projetos: “Família iniciadora da Fé” e “Família em Oração”, que manteremos como projetos contínuos de nossa ação pastoral.
Tendo recebido os resultados das assembleias pastorais realizadas nas foranias da Diocese observamos a convergência de prioridades. As prioridades pastorais indicadas surgiram da consideração da realidade Diocesana e são elas: 1- família, 2- juventude, 3- acolhida, 4- formação, 5- catequese, 6- missionariedade e 7- serviço da caridade. Isso revela que nosso olhar vai na mesma direção que a Igreja, em âmbito universal e nacional, nos tem indicado como atenção pastoral e evangelizadora. É preciso fortalecer a experiência cristã em nossas famílias, sobretudo pela disposição em ler, refletir e rezar a Palavra de Deus. Desta maneira a própria família vai fazendo um caminho de evangelização, de transmissão da fé. Outra indicação é a atenção para com a evangelização da juventude, de modo que, com eles, a Igreja sempre se renove e revigore. Muitas iniciativas já existem nesse sentido, sobretudo, lideradas por movimentos destinados aos jovens. Assim, mais que integrar os jovens nas paróquias seria importante as paróquias darem o necessário respaldo em apoio, acompanhamento e colaboração aos significativos trabalhos que já são realizados em vista à evangelização dos jovens. Indicação que também se destacou nas assembleias das foranias foi a formação, a catequese, realidades que catalisam e concretizam a própria missão da Igreja de ensinar o que recebemos do Senhor e fazer discípulos. Não há como falar em pastoral, em evangelização, sem priorizar a catequese em todas as suas fases e maneiras de se concretizar ao longo da vida do cristão. A missionariedade também foi destacada nas assembleias das foranias. Como já foi comentado acima, esse é um aspecto essencial da Igreja. Não se trata de algum grupo da Igreja realizar determinadas ações, considerando isso como “fazer missão”. Todas as ações da Igreja têm que ser expressão de sua missionariedade; devem ter por objetivo evangelizar atingindo aqueles que ainda não foram despertados à fé ou não receberam uma evangelização completa. Mais que escolher a missionariedade como prioridade, é necessário que todos os trabalhos da Igreja tenham essa preocupação de ir a todos, anunciar e fazer discípulos. Sendo missionária, a Igreja também deve desenvolver atitude de acolhimento. Comunidades eclesiais missionárias, necessariamente, têm que ser acolhedoras. Missionariedade e acolhimento são realidades inseparáveis. Por fim, outro destaque proveniente das foranias foi a caridade. A palavra “caridade” é sinônimo de amor e é o maior mandamento que Jesus nos deixou. Ele mesmo diz: “nisto todos conhecerão que sois meus discípulos, se vos amardes uns aos outros” (Jo 13,35). O amor se expressa em viver empenhado pelo bem e pela felicidade do outro. Amar é não ter o centro em si mesmo, mas doar a vida pelos outros; isso caracteriza o cristão.
No próximo mês, continuaremos essa reflexão sobre o que devemos ter em conta ao realizar nossa assembleia pastoral.
Dom Wilson Angotti
Texto publicado no Jornal O Lábaro edição de outubro de 2019