As obras de misericórdia como uma ação litúrgica

Convocados como povo de Deus, pelo Papa Francisco, vivemos desde o dia 08 de dezembro de 2015, o Ano Santo da Misericórdia. Impulsionados a descobrir o amor eterno e misericordioso do Pai por cada um de nós, através de seu Filho Jesus Cristo, na força do Espírito Santo, caminhamos.

A liturgia vivida e experimentada em nossas comunidades eclesiais convida-nos a fazer esse itinerário pascal transformando em atitudes concretas aquilo que se realiza no rito sacramental.

“Nós celebramos o culto movidos pelo Espírito Santo” (Filipenses 3,3). A ação santificadora deste Espírito ensina-nos a viver de Cristo. “A liturgia, sem dúvida, é o modo específico através do qual a Igreja vive de Cristo e por Cristo, e faz viver os fiéis de Cristo e para Cristo. As palavras e os gestos litúrgicos estão a isto ordenados: Para mim, de fato, o viver é Cristo (Filipenses 1,21)” , cita Goffredo Boseli, no seu livro: O sentido espiritual da Liturgia.

Partindo desta compreensão, de que há necessariamente uma continuidade cristológica e litúrgica em nós, depois que participamos de uma celebração, podemos pensar no valor das obras de misericórdia como uma ação litúrgica. Assim, superamos a deficiente compreensão de que liturgia se realiza apenas dentro do Templo.

Papa Francisco exorta-nos: “É meu vivo desejo que o povo cristão reflita, durante o Jubileu, sobre as obras de misericórdia corporal e espiritual. Será uma maneira de acordar a nossa consciência, muitas vezes adormecida perante o drama da pobreza, e de entrar cada vez mais no coração do Evangelho, onde os pobres são os privilegiados da misericórdia divina. A pregação de Jesus apresenta-nos estas obras de misericórdia, para podermos perceber se vivemos ou não como seus discípulos.” (Misericordiae Vultus n.15).

As ações litúrgicas não podem ser mera repetição, formalismo, um ditado, um texto pronto. Precisamos aprender a enxergar os ritos como fonte de espiritualidade e praticidade de nossa fé. “As obras de misericórdia são ações caridosas pelas quais vamos em ajuda do nosso próximo, nas suas necessidades corporais e espirituais” (Catecismo da Igreja Católica n. 2447).

O crescimento espiritual proporcionado por uma liturgia que se desenvolve no dia a dia do cristão, transparece na busca pelo céu e pelo encontro com o Ressuscitado que está bem próximo e não somente nos textos bíblicos ou nas espécies eucarísticas.

Na medida em que vamos nos aprofundando no conhecimento litúrgico, sentimos o valor, o peso e significado de cada ato realizado principalmente na celebração eucarística. “Ao definir a misericórdia, os livros do antigo testamento usam sobretudo duas expressões. Em primeiro lugar, o termo hesed, que indica uma atividade profunda de bondade e significa também graça e amor. O segundo vocábulo é rabam, que na sua raiz denota o amor de uma mãe que implica bondade, ternura, paciência, compreensão e disposição em perdoar. A tradução grega mais habitual de ambos e o uso preferencial no Novo Testamento é eleos, de onde surge a invocação litúrgica: Kyrie eleyson: Senhor tende piedade/misericórdia!” (Pontifício Conselho para nova evangelização, as obras de misericórdia corporais e espirituais, página 18).

Suplicamos em cada ato penitencial uma piedade, um gesto misericordioso de Deus para conosco. Na espiritualidade litúrgica, cada participante do sacrifício de Jesus, envolve-se do desejo de levar para vida, aquilo que celebrou, por isso, as obras de misericórdia devem ser assumidas como uma ação litúrgica, uma ação em favor do outro.

As Obras de misericórdia corporais são:

1) Dar de comer a que tem fome;
2) Dar de beber a quem tem sede;
3) Dar pousada aos peregrinos;
4) Vestir os nus;
5) Visitar os enfermos;
6) Visitar os presos
7) Enterrar os mortos.

As Obras de misericórdia espirituais são: 1)Ensinar os ignorantes; 2) Dar bom conselho; 3) Corrigir os que erram; 4) Perdoar as injúrias; 5) Consolar os tristes; 6) Sofrer com paciência as fraquezas do nosso próximo e 7) Rezar a Deus por vivos e defuntos.

Que nossos anseios celebrativos e litúrgicos se transformem em obras de misericórdia de modo que possamos dar as nossas “páscoas semanais”, um autêntico sentido espiritual e prático.

Pe. Kleber

Fonte: O Lábaro – edição de abril/2016

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