“Especulações completamente sem fundamento”: assim o Diretor da Rádio Vaticano e da Sala de Imprensa da Santa Sé, Pe. Federico Lombardi, responde às notícias publicadas recentemente pela imprensa de que o Papa Francisco estaria doente depois de cancelar ou reduzir alguns compromissos de sua agenda.
Leia a seguir a entrevista exclusiva que o Pe. Lombardi concedeu ao Programa Brasileiro.
Programa Brasileiro:- Pe. Lombardi, partimos de um fato destes dias: parte da imprensa brasileira tem especulado sobre a saúde do Papa, com ilações de que Francisco não estaria muito bem. O que o senhor pode nos dizer a esse respeito:
Pe. Lombardi:- São especulações completamente sem fundamento. Em parte, essas especulações se devem ao fato que publicamos qual é a atividade do Papa durante o período de verão (europeu), portanto, a redução de seus compromissos habituais neste período. Isso significa que não haverá as audiências gerais do mês de julho e as missas na Casa Santa Marta nos meses de julho e agosto. Isso foi interpretado por alguns como redução dos compromissos por motivo de saúde. Isso é absolutamente desprovido de razão, porque é exatamente a mesma coisa que se fez no ano passado, em que não houve as missas da manhã durante todo o mês de julho e de agosto e não houve as audiências gerais durante todo o mês de julho e, inclusive, foram depois suspensas também durante o mês de agosto porque havia poucas inscrições. Então isso é normal, não há nenhum motivo particular de saúde do Papa. Aproveito para recordar que também seus predecessores faziam o mesmo tipo de redução dos compromissos durante o período do verão. João Paulo ia para lugares de montanha durante o mês de julho e não fazia nenhuma audiência geral. Também Bento XVI ia para Castel Gandolfo, e as audiências gerais eram suspensas durante o mês de julho. Portanto, se trata de algo absolutamente normal feito pelos predecessores. Uma redução dos compromissos do Papa é também uma redução do trabalho de seus colaboradores. O Papa não está sozinho no Vaticano ou na Igreja: toda iniciativa do Papa envolve muitas pessoas que trabalham em função dos compromissos do Santo Padre, que devem desempenhar vários serviços relacionados à atividade do Papa. Devem receber os pedidos de participação nas audiências, distribuir os bilhetes, dispor as cadeiras, colocar as coisas em ordem, limpar, em suma, fazer tantas coisas. Inclusive para as missas que celebra na Casa Santa Marta várias pessoas trabalham quer para a preparação, quer para a realização e o acolhimento dos grupos todas as manhãs. O Papa sabe que também essas pessoas precisam repousar de vez em quando. O Papa e seus colaboradores devem ter um ritmo humano de trabalho. É justo que, durante o período de verão, haja uma redução dos compromissos.
É algo absolutamente normal e não há nenhum motivo de saúde. Noto que o Papa Francisco decidiu, como no ano passado, permanecer na Santa Marta durante o verão. Não ir para fora de Roma, mas ter um período com menos compromissos públicos que lhe permite fazer outro tipo de trabalho, de reflexão, de oração, com um ritmo mais calmo, mas também que lhe permite pensar, escrever. Nos meses de verão do ano passado, o Papa escreveu a Evangelii Gaudium, que é um grande documento, muito importante para toda a Igreja. Certamente, houve a oportunidade para que pudesse pensá-lo e escrevê-lo. Se todos os dias ele tiver audiências, colóquios e outras coisas, nunca terá tempo para pensar em algum documento ou em alguma reflexão mais aprofundada. Agora, sabemos que está sendo preparada uma nova Encíclica, da qual falou, sobre a proteção da criação, sobre a ecologia. Há inúmeros empenhos importantes do Papa para o próximo outono, há o Sínodo sobre a Família, outras viagens. Há pouco anunciou a viagem à Albânia. Depois há viagem à Ásia e assim por diante. Os compromissos são numerosos e também a preparação para esses empenhos requer concentração e tempo. O verão deste ano servirá para isso. Destaco ainda que, no ano passado, no mês de julho o Papa foi ao Rio para a Jornada Mundial da Juventude e, depois, fez um período mais longo de descanso dos compromissos públicos em agosto. Este ano será o inverso, porque em agosto o Papa irá à Coreia, uma longa viagem em outro continente. Portanto, os compromissos serão mais reduzidos em julho, de modo que tenha um tempo de interrupção.
Programa Brasileiro:- Portanto, Pe. Lombardi, na verdade este período de verão em que não há compromissos públicos do Santo Padre, é um período ao invés em que o Papa trabalha muito, como o senhor reiterou. Há esses compromissos, há a Encíclica sobre a ecologia em preparação, certamente este período podemos prever também um tempo disponível para toda essa preparação, para a redação do documento….
Pe. Lombardi:- Não cabe a nós fazer a agenda do Papa e ditar quais trabalhos que ele tem que fazer. O Papa certamente é muito ativo, prepara documentos, faz reflexões. Mantém encontros. No ano passado, mesmo sem as audiência públicas, realizou durante o verão encontros e atividades que eram importantes para desenvolver suas reflexões. Portanto, não é certamente um tempo “vazio”, é um tempo “cheio”, mas de maneira diferente, sem os compromissos públicos que caracterizam a agenda normal: não há audiências a chefes de Estado ou a outras grandes personalidades. Não há as grandes audiências na Praça no mês de julho, porém o Papa igualmente trabalha, reza, estuda, escreve e encontra pessoas como faz habitualmente. Gostaria de acrescentar outra pequena consideração: houve dias em que o Papa suspendeu algumas audiências previstas e as adiou para outro momento. Isso aconteceu porque havia naquele dia um motivo para descansar um pouco, devido a uma leve indisposição ou outra razão. Também isso deve ser considerado absolutamente normal para uma pessoa que tem um ritmo de atividade incrível, como o Papa tem, que trabalha de manhã, à tarde, quase sempre sem interrupção. Portanto, se ele tira um momento de repouso, naturalmente deverá mexer ou adiar alguns dos compromissos assumidos. Mas isso é absolutamente normal. Se ele tivesse uma atividade muito mais reduzida, isso não aconteceria. Mas ao invés (risos), como sabemos, tem uma atividade realmente muito intensa. Como vimos, sempre retomou a atividade em tempos brevíssimos (essas interrupções foram sempre muito breves), de parte do dia, e depois retomou o ritmo normal. Quem o segue na sua atividade em Roma, ou acompanha com atenção o que ele faz, percebe que tem um ritmo de atividade enorme, intensíssimo, e isso certamente não quer dizer que está mal. Ou seja, não tem uma enfermidade; caso contrário, absolutamente não seria capaz de fazer tudo o que ele faz: a extensão das grandes audiências, as celebrações, as viagens que realizou em condições muitas vezes difíceis… E continua a assumir mais compromissos. Sei, por exemplo, se olharmos para o mês de setembro, praticamente em todos os domingos daquele mês já existem compromissos públicos que assumiu, como a viagem a Redipuglia (norte da Itália), uma viagem à Albânia. Em outubro, há também o Sínodo, com a celebração de inauguração, uma celebração para os novos santos canadenses, com a beatificação de Paulo VI, há ainda as canonizações que previu para o mês de novembro. Digamos, portanto, que se o Papa reduziu um pouco os empenhos de julho e de agosto, como sempre no passado, não podemos absolutamente dizer que tenha reduzido os compromissos dos meses sucessivos.
Programa Brasileiro:- Além disso, Pe. Lombardi, poderíamos dizer que quem está ao lado do Papa Francisco sabe muito bem, como já foi reiterado mais vezes, que o Pontífice é um “turbilhão”, uma pessoa que não pára nunca, da qual o senhor é naturalmente testemunha….
Pe. Lombardi:- Certamente. Creio que realmente seja impressionante a intensidade da sua atividade e da criatividade. A contínua produção de novas ideias, a vivacidade com que vive a relação com as pessoas que encontra… Não existem absolutamente elementos que deem a ideia de uma pessoa cansada ou doente. Estamos diante de uma pessoa que nos impressiona continuamente pela intensidade de seus compromissos, da sua vida, da sua vivacidade espiritual.
(RL/BF)
Texto proveniente da página http://pt.radiovaticana.va/bra/articolo.asp?c=808961
do site da Rádio Vaticano