A Iniciação Cristã na Família

“Aquilo que ouvimos e aprendemos, o que nossos pais nos contaram, não o ocultaremos a nossos filhos. Vamos contar à geração futura os louvores do Senhor e seus prodígios (…). Isso o Senhor mandou a nossos pais, que o transmitissem a seus filhos (…). Eles se levantarão e o transmitirão a seus filhos, a fim de que ponham em Deus sua esperança, não se esqueçam das obras de Deus e guardem seus mandamentos.” Sl 78,4-7

As diretrizes diocesanas de nossa ação pastoral podem ser, sumariamente, assim apresentadas: 1- Ir missionariamente às famílias; 2- Evangelizar as famílias; 3- Propiciar que a iniciação à vida cristã se dê na família. Decorrente dessas opções, nos últimos anos, intensificamos ações e atitudes missionárias. Criamos os projetos “Missão Paroquial” e “Família em Oração”, este destinado à leitura orante da Palavra de Deus, em família. Neste ano de 2019 queremos conscientizar e reafirmar o compromisso da transmissão da fé e iniciação à vida cristã, no seio da família.

O trecho do Salmo 78, acima transcrito, evidencia a responsabilidade dos pais em transmitir a fé a seus filhos. Ao longo da história do cristianismo, a fé vem transmitida de século a século, de geração em geração. Em tempos passados, essa transmissão era mais tranquila, quase que consequência da inserção da pessoa no ambiente social, fortemente marcado pelas tradições e princípios cristãos. Atualmente, vivemos em meio a uma sociedade mais secularizada e, consequentemente, é necessário maior empenho para transmitir a fé. Muitos são os fatores atuais que dificultam ou mesmo obstaculizam essa transmissão: a correria decorrente das muitas atividades da vida diária, o pluralismo e o indiferentismo religioso, os meios de comunicação que divulgam outros “valores”, a influência social sobre a família, o relativismo da verdade como verdade de cada um, etc. Diante de tudo isso, as famílias cristãs têm um desafio muito maior para transmitir a fé.

Pelo sacramento do Matrimônio, o casal se compromete a viver e a transmitir a fé cristã. Apesar de toda boa disposição, muitas vezes isso não é alcançado. Mesmo nas famílias que cultivaram a prática da fé, muitas vezes, no âmbito familiar, não houve orientação e instrução para gerar e dar suporte à vivência da fé. Não é que os casais tenham deixado de fazer isso por omissão má vontade, mas porque também não receberam orientação e repetiram os esquemas achando que a fé viria por um ato espontâneo em decorrência da prática familiar. Só que os tempos e as condições sociais mudaram e nossas famílias não se atentaram para isso e mantiveram antigos procedimentos. Muitas vezes, com o intuito de motivar à participação eclesial, repetiam cobranças e exigências de práticas cristãs como rezar ou ir à missa aos domingos. Em muitas das famílias cristãs, enquanto os filhos podiam ser tomados pela mão e levados à igreja eles iam. Depois, quando começavam a decidir por si, tendo lhes faltado a instrução suficiente e a experi
ência pessoal da fé, não raras vezes, os filhos, simplesmente deixavam de participar. Com certo drama de consciência, como se tal fato dependesse só deles, os pais se perguntavam em que tinham errado.

Com certeza o que faltou foi o anúncio e a instrução que geram convicções de fé e possibilitam a experiência de encontro com Deus. Tais elementos são essenciais para respaldar uma opção pessoal e uma vivência da fé. Essa instrução da fé deve ter lugar na família cristã. Não é algo a ser remetido ou terceirizado à catequese paroquial, lá poderá ser completado ou aperfeiçoado. Pais e filhos devem ter oportunidade diária ou, ao menos, semanal para juntos ler, refletir e rezar a Palavra de Deus. Essa prática frequente constitui-se uma instrução mútua, lança luz sobre o que a família vivencia, reforça a fé dos cônjuges e cria convicções nos filhos. Certamente, filhos que crescem num ambiente assim estarão melhor preparados para dar sua resposta pessoal e assumir a vivência da própria fé. Confrontados com crenças e ideias diferentes terão mais condições de argumentar sobre o que acreditam e dar as razões da própria fé. Atuando em meio a sociedade, pela palavra e pelo procedimento, poderão imprimir os valores cristãos e atuar como sal e fermento nos ambientes. E enfim, quando constituírem suas próprias famílias poderão também educar seus filhos na fé e esta terá garantida a transmissão de geração em geração. Empenhemo-nos para que isso ocorra em cada família cristã.

Dom Wilson Angotti

Fonte: Jornal O Lábaro edição janeiro/fevereiro 2020

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