Há poucos dias, ao fazer a abertura da “Semana de Catequese” e iniciar nova turma da “Escola para Catequistas (E-Cat)”, na Diocese, abordei esse assunto relacionando-o ao tema da misericórdia, evidenciado neste Ano Santo. Dado que no mês de março são retomadas as atividades catequéticas, nas paróquias, considero oportuno partilhar essa reflexão.
A palavra “misericórdia” vem da composição de duas palavras latinas misereo e cordis e significa ter o coração voltado ao miserável, ao que sofre; ser compassivo; apiedar-se; sofrer com o outro; não ser insensível ao necessitado.
A misericórdia é o modo de Deus agir para conosco, pois Ele não nos ignora em nossa miséria. Biblicamente, a misericórdia está ligada à fidelidade de Deus que usa de misericórdia apesar de toda nossa obstinada infidelidade: “Se lhe somos infiéis, Ele permanece fiel, pois não pode renegar a si mesmo” (IITm 2,13). Jesus é a expressão visível da misericórdia divina. Ele não nos ignorou em nossa miséria, em nosso pecado; veio até nós; seu amor transbordou em perdão; ensinou-nos o que agrada a Deus, o que nos faz verdadeiramente felizes; entregou a vida pela nossa salvação, como serviço por nossa salvação, simbolizado pelo ato de lavar os pés discípulos; enviou-nos a fazer e a ensinar o que dEle aprendemos, compartilhando conosco sua missão. Tudo isso é expressão da misericórdia divina que se fez visível em Jesus.
Na bula “Misericordiae Vultus” (O rosto da Misericórdia), o Papa Francisco diz: “A misericórdia caracteriza o agir de Deus para conosco, por isso, nada na Igreja pode ser desprovido da misericórdia. A misericórdia não só caracteriza Deus, mas também é critério para conhecermos Seus verdadeiros filhos” (n. 9 – 10). Da mesma forma como recebemos misericórdia, como cristãos, temos que agir com misericórdia.
O ministério do catequista é um exercício de misericórdia, sobretudo por dois motivos, que ora evidencio. Primeiro, porque é concretização específica de uma das obras de misericórdia espiritual “ensinar os que não sabem”. Ensinar o caminho de Deus é obra de misericórdia, pois, querendo o bem do outro, não ficamos indiferentes, mas lhe transmitimos o que temos de mais importante e lhe indicamos o caminho da comunhão com Deus, da vida nova, da salvação. Segundo porque a Igreja, o catequista em particular, continua a missão de Jesus que se caracteriza pela misericórdia. Essa caracteriza o agir de Deus e, consequentemente, o agir da Igreja, por Ele constituída e enviada.
Se me perguntassem o que eu espero ou gostaria da parte dos catequistas, não só neste Ano Santo, mas motivados por ele, eu diria: atuem inspirados pela misericórdia de Cristo e movidos por seu exemplo. Portanto, vão ao encontro de todos, sobretudo daqueles que estão afastados. Falem do amor que Deus tem por todos sem exceção. Favoreçam o encontro com o Senhor que restaura e plenifica nossa vida. Como discípulos missionários dediquem-se a aprender e a ensinar o que agrada a Deus. Seguindo o exemplo de Jesus ofereçam a vida dedicando-se a esse serviço; lavem os pés dos irmãos servindo na catequese. Despertem a consciência dos catequisandos de modo que todo aquele que foi tocado pelo amor de Deus e se tornou discípulo se conscientize de que também é enviado como missionário para anunciar esse amor aos outros.
O Papa João Paulo II, na “Dives in Misericordia”, diz: “A Igreja vive de modo autêntico quando professa e proclama a misericórdia de Deus e quando aproxima as pessoas desta Fonte da misericórdia”, que é Deus (n. 11). Que nossa catequese, pelo modo como se realiza e por aquilo que anuncia, ajude as pessoas a conhecerem e a experimentarem a misericórdia de Deus. Assim ela atingirá seu objetivo e cumprirá sua razão de ser.
Dom Wilson Angotti
Bispo da Diocese de Taubaté