A liturgia continua sendo a fonte e o cume da vida da Igreja (SC 10) e por isso, desperta muito interesse em todas as instâncias da comunidade eclesial. Nos últimos anos a sede pela pastoral litúrgica tomou conta dos leigos, dos seminaristas, dos diáconos, de alguns padres e bispos. Falar de liturgia é falar do “tchan” do momento. E todo este movimento tem gerado uma grande tensão.
Todo processo formativo deve ser sempre bem planejado, acompanhado, adaptado e desenvolvido com cautela e prudência tendo em vista os resultados a serem obtidos. Quando falamos em liturgia, dificilmente encontramos essa consciência de que um processo de inserção na vida litúrgica não acontece do dia para a noite.
Ultimamente tenho percebido no ambiente da Igreja, aquilo que arrisco a chamar de uma Tensão Litúrgica que vem ameaçando a unidade e a comunhão de muitas comunidades que desejam desenvolver um trabalho litúrgico fundamentado nos anseios da Igreja expressos na Constituição Sacrosanctum Concilium.
Tensão Litúrgica, no meu ponto de vista, surge a partir do conflito de ideias e ideais das “diversas tendências” litúrgicas que surgem hoje. Basta olharmos alguns exemplos: os modos de presidir e celebrar a eucaristia; os padres midiáticos que instauram um modo próprio de fazer a sua liturgia; as diversas celebrações que são transmitidas pelas TVs, os diversos sites, blogs que surgem na internet provocando conflitos, artigos e mais artigos que são publicados sem fundamento algum.
E por detrás de cada exemplo desses, existem as linhas de pensamento. Uns querem um terceiro Concílio Vaticano, outros querem voltar ao Concílio de Trento, outros querem uma liturgia onde tudo pode e outros não querem nada. E isso atinge diretamente o modo de celebrar de nossas comunidades eclesiais. Se não estiver enganado hoje o espaço da pastoral litúrgica tornou-se um lugar tenso, conflitante, desgastante, desmotivador. Não que não fosse antes, mas a intensidade e as feridas que se abrem são cada vez maiores e mais demoradas de serem curadas.
Hoje há uma preocupação excessiva com o aspecto jurídico da liturgia: “o pode e o não pode”. Estamos esquecendo que liturgia é antes de tudo uma fonte espiritual.
No processo formativo, nós presbíteros, aprendemos que a liturgia é base da vida eclesial e de que ela necessita de pastoreio especifico. Mediante as tendências que estão enraizadas em nossas comunidades, é preciso que nós, ministros ordenados, tomemos a frente para que a liturgia não caia no descaso e no “se faz de qualquer modo e está tudo bem”. Não! Não está tudo bem. Existem critérios, fundamentos bíblicos, teológicos.
Estejamos atentos. Estamos criando nas comunidades uma série de ministros e coroinhas, acólitos que acham que entender de liturgia, é só colocar uma batina e sair cerimoniando aqui ou acolá. Liturgia é muito mais que uma batina, uma celebração, um senta e levanta. Liturgia é antes de tudo espiritualidade que se alimenta no coração e que se vive no dia a dia.
Estamos caminhando para os 50 anos da Constituição Sacrosanctum Concilium, muitos eventos serão realizados, reflexões, seminários, estudos. Por isso, dando os primeiros passos nesta perspectiva, deixo para você, caro leitor, uma proposta de análise:
“A liturgia consta de uma parte imutável, divinamente instituída, e de partes suscetíveis de mudança. Estas, com o correr dos tempos, podem ou mesmo devem variar” (Sacrosanctum Concilium 21).
Considerando esta afirmação da Constituição Litúrgica, observe a vida litúrgica de sua comunidade, as tendências, os cantos, o modo como os ministros estão envolvidos com a celebração e depois responda: vivemos ou não uma tensão litúrgica em nossas comunidades?
Pe Kleber Rodrigues