Polarização?

Está difícil manter uma conversa amena hoje em dia. Numa reunião com amigos ou parentes que seria para descontrair e confraternizar é impossível evitar o tema da política e opiniões antagônicas e polêmicas. Todo assunto é motivo para polarizações.

O debate de ideias geralmente gira em torno de bandeiras, que cada um vai assumindo sem muita cerimônia, e no mais das vezes, sem entender muito. Destaco três binômios que se contrapõem: conservador e progressista, liberal e social e a famigerada dupla esquerda e direita.

O mais antigo desses binômios que marca os limites ideológicos da sociedade atual é conservador/progressista. Do século 19 vem liberal/social ou estatal. O mais polarizado, porém, é esquerda/direita como também o mais confuso, mal interpretado e ideologizado.

Como não tenho intenção de polarizar o tema, vou me concentrar no primeiro binômio apenas. Marcos Lisboa, presidente do Insper e doutor em economia, num artigo seu publicado na Folha de São Paulo, no domingo, define esse binômio de forma sucinta e cabal. “Conservador é defender as regras do jogo inclusive para implementar mudanças. Progressistas argumentam que protocolos podem ser rompidos quando um bem maior está em questão”.

Concordo com essa definição e penso que é virtude do sábio ser conservador e progressista a depender da situação tal como ela se impõe. O exemplo vem de Mestre insuspeito de tendências ideológicas, Nosso Senhor Jesus Cristo.

Para Jesus, nem um pingo do “i” ou mesmo uma vírgula deve ser ignorada da Lei. Ele defende “a regra do jogo”, é um conservador. Para Ele, contudo, a Lei foi feita para o homem e não o contrário. Se “a regra do jogo” se impõe como valor maior que a pessoa e sua dignidade, esse erro deve ser corrigido. O bem maior da pessoa é mais importante que a regra e a tradição. Nesse e noutros casos, Jesus foi progressista e irritou os legalistas fariseus e mestres da lei.

De fato, Jesus seguia as leis e os costumes dos judeus de modo muito natural. A sua proposta não era uma ruptura, mas uma continuidade. Contudo, não deixou de criticar toda expressão caduca e opressiva das regras religiosas e das tradições do seu povo. Principalmente quando se desviavam do verdadeiro sentido da Vontade de Deus.

A Igreja, como Povo de Deus, se entende na continuação do Antigo Israel, entretanto, ela representa uma novidade a partir de Jesus Cristo. Eis porque em nossa liturgia sempre voltamos aos textos do Antigo Testamento. Porém, Jesus deixou bem claro, o passado não pode ser apagado nem esquecido, ele ensina a geração presente, mas não deve ser repetido tal e qual, simplesmente porque assim deve ser.

Aqui a sabedoria, sempre iluminados pela Palavra de Deus, consultamos o passado, aprendendo de erros e acertos, vamos progredindo para o futuro, sem repetir os primeiros e inovando os segundos.

Pe. Silvio José Dias.

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