PEREGRINOS DE ESPERANÇA – ANO SANTO DE 2025

A esperança não engana – Via de regra, um ano santo é anunciado por meio de uma Bula Pontifícia, ou seja, um decreto publicado pelo Papa, pelo qual ele apresenta também o tema a ser refletido ao longo do ano. Foi isso que o Papa Francisco fez por ocasião da festa da Ascensão de 2024 ao publicar a bula “Spes non confundit”, ou seja: A Esperança não engana. Essa expressão vem da carta aos Romanos (5,5) e exorta a confiar sempre em Deus. Logo no início o Papa afirma: “Todos esperam. No coração de cada pessoa, encerra-se a esperança como desejo e expetativa do bem, apesar de não saber o que trará consigo o amanhã. Porém, esta imprevisibilidade do futuro faz surgir sentimentos por vezes contrapostos: desde a confiança ao medo, da serenidade ao desânimo, da certeza à dúvida. Muitas vezes encontramos pessoas desanimadas que olham, com ceticismo e pessimismo, para o futuro como se nada lhes pudesse proporcionar felicidade” (n.1). Ao longo da vida, frente às adversidades que surgem, e movidos por vários fatores como: falta de recursos financeiros, ausência de expectativas, medo, idade avançada, problemas de saúde, e outros, há pessoas que desanimam e perdem a esperança! Com o tema escolhido, o Papa quer nos recordar que nós cristãos, não estamos abandonados à nossa própria sorte, mas contamos com a graça de Deus para enfrentar e superar as dificuldades comuns à nossa existência. Fundamentado nessa convicção que provém da fé, o apóstolo Paulo escreve: “Quem poderá separar-nos do amor de Cristo? A tribulação, a angústia, a perseguição, a fome, a nudez, o perigo, a espada? (…) Mas em tudo isso saímos mais do que vencedores graças àquele que nos amou. Estou convencido de que nem a morte nem a vida, nem os anjos nem os principados, nem o presente nem o futuro, nem as potestades, nem a altura nem o abismo, nem qualquer outra criatura poderá separar-nos do amor de Deus, que está em Cristo Jesus, nosso Senhor” ( Rm 8, 35.37-39). Com efeito a esperança cristã não engana, porque está fundada na certeza de que nada e ninguém poderá jamais separar-nos do amor de Deus. Essa é a nossa força e estímulo para enfrentarmos as dificuldades. É a graça que Deus nos oferece que gera em nós a esperança. Esperança é uma virtude, ou seja, uma força interior que nos move a ter uma perspectiva de futuro melhor e a não nos rendermos frente às adversidades que são próprias de nosso viver. Deus é a razão de nossa esperança!

A esperança cristã transcende este mundo – Diz o Apóstolo: “Aquilo que se tem diante dos olhos não é objeto de esperança: como pode alguém esperar o que está vendo?” (Rm.8,24). Nossa esperança está ancorada na certeza de que Deus é o Senhor todo-poderoso e que, para além desta vida, ele nos destina à comunhão consigo na eternidade; para isso Ele nos criou. Todo sofrimento, próprio desta nossa condição limitada de vida, será suplantado por uma nova condição que o Senhor nos concede. A realidade futura é dom do amor de Deus que ultrapassa todo esforço humano. Lá “Ele enxugará toda lágrima dos nossos olhos. A morte não existirá mais, e não haverá mais luto, nem grito, nem dor, porque as coisas antigas passaram” (Ap.21,4). A esperança do cristão não está, pois, nas coisas deste mundo, mas na realidade celeste. É essa a esperança que nos anima como cristãos. Diz o apóstolo Paulo: “Se é para esta vida que pusemos a nossa esperança em Cristo, nós somos – de todos os homens – os mais dignos de compaixão” (ICor.15,19). “…Miramos as coisas invisíveis e não as visíveis. Pois o que é visível é passageiro, mas o que é invisível é eterno” (2Cor.4,17-18). É por esta esperança que nós resistimos enfrentando, com coragem, toda adversidade. É por ela que nós esperamos confiantes. É essa esperança que nos move a superar todos os osbstáculos tendo os olhos fixos no Senhor.

Esperança no futuro e agir no presente. A esperança cristã não é só esperar um futuro de felicidade e realização plena, mas é um compromisso de já construir no presente o que o futuro promete. Aquilo que nós esperamos ver realizado um dia, nos move a buscar realizar hoje. Se assim for, a esperança cristã jamais poderá ser considerada alienante. Pelo contrário, contemplando a meta, ou o ideal de nossa vida, nós vamos construindo o presente. Contemplando o futuro de comunhão fraterna temos que nos empenhar em constituir laços de fraternidade entre nós, que levem a superar toda situação de exclusão. Pessoas e povos inteiros são privados de paz, de alimentação regular ou suficiente, de acesso à água potável, de tratamento de saúde, de educação, de moradia digna, de velhice assistida, etc. É necessário o compromisso de cada cristão a se empenhar pela justiça para que a ninguém faltem as condições de vida digna. Tudo o que fizermos ao menor dos irmãos é ao próprio Senhor que fazemos. Ao manter tal compromisso poderemos ouvir dele as palavras: “Vinde benditos de meu Pai. Recebei em herança o Reino que meu Pai vos preparou desde a criação do mundo” (Mt.25,31ss). Assim, movidos pela esperança, nós construímos nosso presente. É a esperança que nos move. Somos, pois, peregrinos da esperança!

Dom Wilson Angotti
Bispo Diocesano

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