Pe. Rodrigo Natal: um sacerdote devotado à Divina Misericórdia

No dia 24 de abril, Segundo Domingo da Páscoa, foi celebrado o Domingo da Divina Misericórdia, celebração instituída pelo papa São João Paulo II no ano 2000, por ocasião da canonização da santa polonesa Faustina Kowalska, cujo diário narra as suas visões espirituais de Jesus Misericordioso. Pe. Rodrigo, 43, pároco da Paróquia São Sebastião, em Taubaté, se tornou, no Brasil, um dos principais propagadores da devoção à Divina Misericórdia. Aos 17 anos de sacerdócio, completados neste mês de maio, ele fala do significado e importância dessa devoção para a Igreja.

O LÁBARO: O senhor se tornou um grande divulgador da devoção à Santa Faustina e da espiritualidade da Divina Misericórdia. De onde veio o interesse e como começou esse trabalho?

Pe. Rodrigo: Costumo dizer que a Divina Misericórdia me escolheu. Em 2004, fui nomeado diretor geral da Rádio Cultura, emissora que pertencia à nossa Diocese.  Quando soube da necessidade de algum locutor assumir a recitação do Terço da Misericórdia na grade de programação, eu atendi prontamente, pois a rádio estava se estruturando e era importante ter toda a programação preenchida. Desde o início, consegui perceber o quanto a espiritualidade da Misericórdia é uma profunda e preciosa ajuda para a nossa alma; para nossa vida que tantas vezes se depara com as fraquezas humanas, limites e pecados pessoais e sociais; e para ecoar o amor, o perdão e a fraternidade. Tivemos também a inspiração das Semanas da Misericórdia, quando percorri a Diocese, visitando as paróquias, sempre com expressiva participação dos fiéis, de onde eram transmitidos o momento oracional e a Santa Missa. A partir dessas experiências, escrevi livros sobre a espiritualidade, compus e gravei canções com este tema e tenho o apostolado com mensagens de Misericórdia, na Paróquia São Sebastião, em Taubaté, onde atuo como pároco, e também nas redes sociais e missões pelo Brasil.

O LÁBARO: Santa Faustina Kowalska é uma jovem santa polonesa que viveu no Séc. XX, e foi canonizada pelo papa São João Paulo II no ano 2000, portanto, uma santa do nosso tempo. O que ela tem a nos ensinar e que aspectos de sua vida mais lhe chama à atenção?

Pe. Rodrigo: Creio que encontro nas palavras do próprio papa São João Paulo II, por ocasião da Canonização de Santa Faustina, o ensinamento mais claro e perfeito. Ele escreveu: “Escondida no convento em Cracóvia, [Santa Faustina] fez da sua existência um cântico à misericórdia”. E ele expõe o seu desejo: A sua mensagem de luz e de esperança se difunda no mundo inteiro, leve à conversão aos pecadores, amenize as rivalidades e os ódios, abra os homens e as nações à prática da fraternidade. Hoje, ao fixarmos com ela o olhar no rosto de Cristo ressuscitado, fazemos nossa a súplica de confiante abandono e dizemos com firme esperança: Jesus, eu confio em Vós!” (Homilia 30/04/2000).

O LÁBARO: Uma das marcas dessa devoção é o Terço da Misericórdia, rezado atualmente por muitas pessoas que o acompanha diariamente pelas redes sociais. Por que rezar o Terço da Misericórdia?

Pe. Rodrigo: Por vários motivos:

1- Jesus nos pede, em diversos diálogos com Santa Faustina

Jesus apareceu à Santa Faustina e lhe pediu para divulgar a misericórdia divina através de três meios: a imagem com a inscrição “Jesus, eu confio em Vós”, a festa da Divina Misericórdia, a oração que ele a ditou: “O Terço da Divina Misericórdia”.

2- Os papas São João Paulo II e Francisco o recomendam.

Fazendo da Divina Misericórdia o tema do seu papado, São João Paulo II trabalhou incansavelmente para ajudar a cumprir a missão que Jesus deu à Santa Faustina quando lhe disse para levar sua mensagem para toda a humanidade. Em 2013, o Papa Francisco mandou distribuir aos fiéis da Praça de São Pedro o “Misericordina”, o remédio da misericórdia: uma caixinha com a imagem do Senhor da Divina Misericórdia, a explicação do Terço da Divina Misericórdia e um terço para rezá-lo.

3- Recebemos grandes graças

Jesus disse à Santa Faustina: “Todo aquele que o recitar alcançará grande misericórdia na hora da sua morte. Os sacerdotes o recomendarão aos pecadores como a última tábua de salvação. Ainda que o pecador seja o mais endurecido, se recitar este Terço uma só vez, alcançará a graça da Minha infinita misericórdia” (D. 687).

O LÁBARO: No segundo domingo da Páscoa, a Igreja celebra a Festa da Divina Misericórdia. Qual a importância dessa celebração?

Pe. Rodrigo: Santa Faustina, em seu Diário, descreveu que o próprio Jesus deseja que a Festa da Misericórdia seja celebrada no segundo domingo da Páscoa e introduzida no Calendário da Igreja: “Eu desejo que haja a festa da misericórdia no primeiro domingo depois da páscoa, esse domingo deve ser a festa da misericórdia” (D. 49). Esse dia deve ser uma oportunidade para todas as pessoas chegarem mais perto da fonte de perdão e de bondade do Senhor, que disse: “Na minha festa, na Festa da Misericórdia, percorrerás o mundo inteiro e trarás as almas que desfalecem à fonte da Minha Misericórdia. Eu as curarei e fortalecerei”(D. 206).

O LÁBARO: Em que medida a prática devocional pode ser um caminho de evangelização? Que lugar essa prática ocupa na vida do povo católico, especialmente na diocese de Taubaté? 

Pe. Rodrigo: O desafio hoje é resgatar o valor, a beleza e a importância da verdadeira devoção popular na pastoral de conjunto da Igreja. A piedade é como um eixo motivacional para o crescimento da fé que conduz o cristão a adentrar o mistério pascal e a assumir o papel de protagonista da evangelização. O mundo nos provoca a evangelizar de modo novo e criativo. As exigências do tempo presente fazem amadurecer a certeza de que a evangelização no mundo moderno exige linguagem, métodos e técnicas diferentes. Nossa responsabilidade na obra evangelizadora aumenta ainda mais. O Papa João Paulo II nos legou a síntese do seu magistério: “O culto da Divina Misericórdia não é uma devoção secundária, mas dimensão integrante da fé e da oração do cristão”. Aqui, em nossa Igreja Particular, nossa diocese, a prática dessa espiritualidade não poderia ser alheia à forte expressão que tem ecoado na universalidade da Igreja. Podemos contemplar muitos e riquíssimos frutos espirituais de seus devotos, como a busca pela Confissão sacramental e pela Comunhão Eucarística.

O LÁBARO: Como o senhor descreveria todo esse tempo de vivência devocional e como ela tem contribuído para o exercício de seu ministério?

Pe. Rodrigo: Existe uma certeza: se confiamos em Deus, Ele se encarrega de dirigir a nossa vida, mesmo quando há sinal de morte. Não tem sido diferente comigo, simplesmente porque sou Sacerdote, pelo contrário, tenho uma busca constante de conversão e, como não contar com a Divina Misericórdia? Resumo a minha resposta, consciente de que se eu experimento a Misericórdia, tanto preciso ajudar a outros a fazê-lo também. – Isso tudo pra mim é claramente Misericórdia!

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