Paternidade Messiânica de José: plano divino da salvação

O teólogo bíblico jesuíta francês Xavier Léon-Dufour (1912-2007) indica como centro da mensagem a vocação de José a ser pai de Jesus. À diferença de Lucas, que narra a concepção e o nascimento do filho da Virgem, Mateus referiria o nascimento do Messias, de Jesus, o filho de Davi.

Isto responde bem à exigência apologética de Mateus que, destinado a sua obra aos leitores israelitas, não tem tanta necessidade de insistir sobre a concepção virginal – milagre admissível pelos seus destinatários –quanto o de provar como o menino, apesar de ter sido concebido em tal modo, possa e deva ser considerado o herdeiro do trono de Davi. É como filho de Davi que José toma consigo Maria e faz Jesus participar da genealogia davídica. Jesus é filho de Davi porque é filho de José!

Se o objetivo da narração tivesse sido aquele de colocar em evidência a concepção virginal, Mateus teria podido seguir o mesmo método de Lucas, pelo qual José é apenas nomeado. É claro que aos evangelistas não interessam diretamente os problemas pessoais de Maria nem aqueles de José, mas a pessoa de Jesus, que em Lucas é apresentado com aquela transcendência necessária pela sua própria natureza e, portanto, como nascido milagrosamente da mãe virgem, em Mateus ao invés, apresentado na sua messianidade, como descendentes de Davi por meio de José.

Enquanto os dois aspectos cristológicos são apenas indiretamente, mas não por isto menos realmente, como exige o mistério da encarnação.

A circunstância que a narração de Mateus tenha em especial como centro de interesse a messianidade de Jesus mais do que a sua concepção virginal, não compromete em nada a verdade da virgindade de Maria, aliás, aumenta e garante a exigência da realidade deste fato, sendo este justamente o pressuposto da dificuldade que a comunidade judeu-cristã deve resolver.

Já que a virgindade de Maria vinha criar para ela um problema muito difícil, não se pode admitir que tenha sido exatamente a comunidade a inventá-la, como também não tem sentido pensar que ela tenha entendido a virgindade de Maria de maneira não biológica e física, mas de uma maneira puramente simbólica, para significar a suma gratuidade do dom que Deus nos fez em seu Filho; nesse caso o problema da descendência davídica não teria surgido.

José não se encontrou, portanto, por acaso, sendo pai de Jesus. Se as circunstâncias (habitação, idade, parentesco, amor, etc ) o tinham naturalmente levado a unir a sua vida com aquela de Maria através do vínculo matrimonial, chega depois este divino momento no qual Deus entra como dono no seu santuário doméstico para inaugurar aquela superior economia que exige uma nova geração não dependente da carne e do sangue. Os vínculos precedentes não são dissolvidos, e justamente por isto José é motivado pelo anjo a tomar consigo Maria; mas ele deve compreender que a parte que está assumindo no plano da redenção o constitui pai em uma ordem de parentesco que não é igual àquele natural dos irmãos e irmãs (= parentes) do Senhor.

O parentesco de sangue não é o parentesco que pode exigir direitos no Reino de Deus. José passa a fazer parte de uma nova família que traz uma origem somente pela iniciativa divina. Tal ingresso supõe uma chamada do alto e uma resposta permeada de obediência e de fé, instrumento da nova geração. O verdadeiro parentesco que liga a Jesus não pode ser fundado sobre direitos pessoais e naturais, mas somente sobre a vontade divina (Mt 12,50; Lc 11,27).

Constituído pai de Jesus por essa soberana vontade, José se insere como um elemento necessário na execução do plano divino da salvação e entra com o justo título na fileira dos patriarcas como o seu máximo expoente.

Se José tomou consigo Maria isso não é para iniciar uma vida matrimonial em sentido pleno, mas para cumprir a ordem de Deus que por essa estrada quis que o filho de Maria nascesse na casa de Davi para ser o herdeiro das promessas.

A presença de José na Sagrada família é exigida e justificada em última análise pelo seu relacionamento com Jesus.

Prof. Dr. José Pereira da Silva

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