Padre José Vicente, Reitor da Basílica Menor Senhor Bom Jesus de Tremembé

Desde abril de 2010, Pe. José Vicente está à frente da Paróquia Senhor Bom Jesus de Tremembé. Ele assumiu a árdua tarefa de recuperar um dos mais preciosos patrimônios da Diocese de Taubaté: a Basílica de Tremembé. Contando já 350 anos de existência, a devoção ao Senhor Bom Jesus constitui-se num verdadeiro patrimônio de fé e cultura da região vale paraibana. Como afirma Pe. José Vicente na entrevista que deu a O Lábaro, essa devoção popular “deveria ser melhor aproveitada para a evangelização”.

O Lábaro: Quando o senhor chegou a Tremembé e quando se tornou pároco da Paróquia Senhor Bom Jesus?
Pe. José Vicente: Cheguei em Tremembé, no dia 12 de abril de 2010. Dom Carmo me provisionou, como pároco, no dia 29 de abril, e me deu posse no dia 12 de junho, comemorando o jubileu dos meus 50 anos de vida (15/06) e os 25 anos de minha ordenação diaconal (13/06).

basilica-bom-jesus-tremembeO Lábaro: Uma missão que o senhor assumiu a partir de sua posse como pároco foi a de reitor da Basílica. Qual era a situação dela à época e qual foi o trabalho que o senhor teve de empreender?
Pe. José Vicente: Na verdade assumi o Santuário Basílica sem saber bem em que estado ela se encontrava, sabia só que estava fechada a um ano por problemas estruturais no telhado e na taipa. Tanto a paróquia com sua estrutura organizacional, como o Santuário Basílica sede da paróquia estavam falidos. Assumi a paróquia com dividas. Ela possuía um carro marca Ford K, com mais de cem mil kilômetros rodados e mais da metade das prestações a serem quitadas. A Basílica estava sem dinheiro e sem estrutura para acolher os fiéis. E ainda, o mons. Manoel Brito, meu antecessor, pároco emérito, estava com sua saúde precária. A minha primeira atitude foi dar ao Monsenhor o melhor cuidado possível, foi então que passei a tomar café e a fazer as refeições com ele, para acompanhar mais de perto as suas necessidades e poder cobrar dos profissionais e cuidadores, mais atenção e qualidade de serviço. Junto com isso tudo, foi preciso assumir o desafio de construir o salão que passou a funcionar como igreja matriz provisória, acolhendo o povo para as celebrações. Encabecei a festa do Senhor Bom Jesus com um grupo de voluntários, o que deu uma boa renda, o suficiente para quitar as dividas contraídas com a construção do galpão e adquirir um carro zero Km para a paróquia, atendendo aos trabalhos do pároco e reitor. Estabilizando financeiramente a paróquia, em setembro do mesmo ano (2010) criei uma equipe que denominei “equipe pensante”, para me ajudar a pensar e resolver o grande problema. Graças a essas iniciativa e a parceria com a Universidade de Taubaté, tivemos o projeto de restauro aprovado pelo ministério da cultura em Brasília. Somou com a comunidade local a empresa Oxiteno do grupo Utra e governo do Estado de São Paulo o que contribuiu para a reabertura da Basílica tão logo foi possível.

O Lábaro: E qual foi o seu sentimento e do povo de Tremembé com a reabertura da Basílica?
Pe. José Vicente: A reabertura do Santuário Basílica foi uma etapa do processo do restauro, foi emocionante ter atingido esse objetivo enquanto muitos já não acreditavam mais em participar de celebrações no Santuário. Um outro motivo que ganhou um profundo significado para a reabertura, foi a celebração do jubileu dos 350 anos da presença da imagem do Bom Jesus em Tremembé. A Basílica esta na alma das pessoas, faz parte da vida delas aqui em Tremembé.

O Lábaro: A Semana Santa desse ano marcou a reabertura da Basílica. Como foi celebrar a Páscoa dentro do santuário?
Pe. José Vicente: As celebrações ganharam mais vida e se tornaram mais solenes. Tivemos também, o projeto “Paixão”, com o apoio do Ministério da Cultura, o que veio enriquecer esse momento jubilar.

O Lábaro: A festa do padroeiro deste ano, a novena e toda a programação litúrgica, foram feitas dentro do santuário. O que isso significou para Tremembé e para a Diocese de Taubaté?
Pe. José Vicente: Já o ano passado a novena jubilar aconteceu no Santuário, contando com a presença de bispos e padres convidados, o que não foi diferente desse ano. Este ano já é a quarta festa que presido e a segunda dentro do santuário, que há cada ano tem aumentado significativamente com a presença dos fiéis.

O Lábaro: Como o senhor avalia a importância da festa do Senhor Bom Jesus – tanto a parte religiosa quanto a social – para a paróquia e, principalmente, para a Basílica?
Pe. José Vicente: A festa religiosa para uma paróquia é um momento de reavivamento dos fiéis na fé, é um momento para eles pararem para rezar juntos e repensar a caminhada de fé. Na paróquia do Senhor Bom Jesus de Tremembé, isso é um pouco mais complicado, porque a vida da paróquia se mescla muito com a religiosidade popular que é própria do Santuário e acaba perdendo a sua característica própria de família paróquial e passa a celebrar e refletir aquilo que é próprio mais de massa. Enquanto Santuário Basílica, ela tem uma grande importância não só para Tremembé, mas para toda a Diocese, bem como para o Vale do Paraíba e região como um grande encontro com a pessoa de Jesus Cristo.

O Lábaro: A Basílica está organizando melhor a acolhida aos romeiros. Fale-nos um pouco sobre os trabalhos que estão sendo feitos, sobre os projetos que estão sendo desenvolvidos.
Pe. José Vicente: Temos como projeto a construção de um centro de acolhida ao romeiro. Estamos utilizando o galpão onde antes acontecia as celebrações, enquanto estava fechada a Basílica. Como primeira fase deste projeto, construímos sanitários masculinos, femininos e alguns próprios para portadores de deficiência física. Depois que terminarmos de pagar as dividas contraídas com a construção desses sanitários, vamos trabalhar para a construção de uma praça de alimentação, com lanchonete e lojas de objetos devocionários e outras salas, para melhor acolher os peregrinos.

O Lábaro: De onde vem os romeiros e quem são eles?
Pe. José Vicente: Os romeiros vem principalmente, na sua maioria, da região do Vale do Paraíba e Sul de Minas. Mas, recebemos também, romeiros de São Paulo, Belo horizonte Florianópolis, Curitiba, Rio de Janeiro, basicamente, peregrinos com destino a Aparecida que vem visitar o Santuário do Senhor Bom Jesus.

O Lábaro: Em 2013, foi celebrado os 350 anos da imagem do Senhor Bom Jesus. A programação incluiu romaria dos decanatos da diocese e um jubileu. Qual foi a repercussão desse evento?
Pe. José Vicente: Tínhamos um objetivo bem claro com a visita da imagem do Senhor Bom Jesus às paróquias da diocese e com as romarias dos decanatos, enfim com o jubileu como um todo: reavivar a devoção ao Senhor Bom Jesus, que havia diminuído com o fechamento da Basílica. Como resultado tivemos o crescimento da presença de peregrinos vindos dessas paróquias para os dias festivos aqui na Basílica, como a missa devocional, celebrada todo dia 6 de cada mês. Outro resultado sentido foi o aumento de pessoas que participaram das celebrações na festa. Muitos que já não vinham mais voltaram, outros começaram a vir. A cada ano que passa a festa está ganhando uma maior proporção.

bom-jesus-tremembe-imagemO Lábaro: Em poucas palavras, o senhor poderia falar da importância do Senhor Bom Jesus e da Basílica de Tremembé para a Diocese de Taubaté e para a região?
Pe. José Vicente: É preciso considerar a importância histórica, já são mais de 350 anos da presença da imagem do Senhor Bom Jesus na região. Isso representa um valioso patrimônio histórico, cultural, de fé e de piedade popular acumulados já por mais de três séculos. Sua importância e valor podemos perceber com a atenção que o santuário recebe da mídia e dos centros de cultura, sentidos principalmente agora que ele passa por obras de restauro. Partindo dessa realidade, poderia afirmar que a Basílica poderia ser melhor aproveitada na evangelização, num plano de pastoral da Diocese de Taubaté, com boa repercussão na região, visto que a própria imagem do Bom Jesus é um símbolo forte de evangelização, e é uma imagem tradicional e marcante na vida do povo.

O Lábaro: O que é uma basílica, que aspectos a diferem de outros santuários e igrejas?
Pe. José Vicente: Basílica é um título recebido da Santa Sé, dai o símbolo das chaves presente no seu brasão e que deve estar colocado na porta de entrada do santuário. Esse título é dado por causa da importância que o santuário tem como centro de peregrinação o que é reconhecido pela Sé Apostólica. Receber esse título comporta a organização de uma assistência espiritual típica de acolhida à romeiros. Essa é a principal diferença com relação aos outros santuários e igrejas paroquiais. Se não existe a pastoral de romaria, se não acontecem as peregrinações a Santa Sé pode até mesmo retirar o título de Basílica.

Símbolos que identificam a dignidade de uma basílica

Basílica é um termo que se referia, no tempo do Império Romano, a um prédio destinado a assembleias cívicas, ao comércio ou leilões e, muitas vezes, servia de tribunal para se administrar a justiça do imperador. Na Igreja Católica, basílicas são igrejas que, devida a sua importância estão unidas ao Sumo Pontífice. Basílicas se destinguem entre maior e menor. Basílica Maior é uma igreja colocada diretamente sob a autoridade do Papa. Basílica Menor é um título honorífico concedido pelo Papa a igrejas consideradas importantes por diversos motivos tais como: a veneração que lhe devotam os cristãos, a relevância histórica e a beleza artística de sua arquitetura e decoração. A unidade especial à Cátedra de Pedro é sinalizada por alguns símbolos específicos que só as igrejas basílicas tem. Entenda alguns desses sinais, presentes na Basílica Menor do Senhor Bom Jesus de Tremembé.

1 – Insígnia

Pontifícia Composta pela Tiara Papal e as “chaves cruzadas” em prata e ouro, símbolo da prerrogativa papal, poderá ser apresentada nos estandartes, nas alfaias e no frontispício (fachada externa) da Basílica. Embora os papas não utilizem mais a tiara, na heráldica eclesiástica ela continua sendo um símbolo proeminente do papado, sendo que os brasões do Vaticano combinam uma tiara com as chaves cruzadas de São Pedro, normalmente amarradas por um cordão. Os brasões dos papas também possuíam uma tiara em seu timbre, até que o Papa Bento XVI, em 2005, a substituiu por uma mitra, exemplo que foi seguido pelo Papa Francisco.

2 – Ombrellino

Também chamado Umbela Basilical. É um baldaquino na forma de guarda-sol, com listras vermelhas e amarelas, conhecido como ombrellino ou “basílica”, como homônimo do templo. Quando o papa eleva uma igreja ao grau de basílica, o ombrellino é obrigatoriamente usado, como a principal insígnia. Ele deve estar presente no presbitério ou num local de destaque e pode ser utilizados para abrir as procissões. Ainda, pode ser utilizado como timbre do brasão.

3 – Tintinábulo

Compõe-se de uma haste que sustenta um pequeno sino ornado com um ícone do titular da Basílica. Na parte superior, possui o símbolo pontifício (tiara papal cruzada por duas chaves). É um campanário processional, sua função é de chamar a atenção dos fiéis para a passagem dos cortejos da basílica. Nas procissões, a umbela vai à frente do tintinábulo e este à frente da cruz processional. Assim como o ombrellino, o tintinábulo é símbolo da dignidade das basílicas e mostra sua união com o Pontífice Romano.

4– Brasão Eclesiástico

É a insígnia de identificação da Basílica, com um significado todo especial. Um dos privilégios das basílicas é ter o seu brasão timbrado pelas insígnias papais. Ele serve de distintivo e representa a Basílica como tal.

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