O Papa Francisco e os pobres: a serviço do evangelho

“Como gostaria ter uma Igreja pobre e para os pobres”, disse o Papa Francisco no Vaticano durante um encontro com cerca de seis mil jornalistas acreditados na Santa Sé.

Na verdade, Jesus, o Reino e os pobres são inseparáveis. Os estudos bíblicos e cristológicos das últimas décadas tem mostrado de modo cada vez mais consensual que não se pode falar de Jesus Cristo senão a partir e em função do reinado de Deus e que no centro do reinado de Deus está a justiça aos pobres e oprimidos deste mundo.

O reinado de Deus tem a ver fundamentalmente com a justiça ao pobre,aoórfão,á viúva e ao estrangeiro – símbolo dos marginalizados de todos os tempos.

No dia 11 de setembro de 1962, um mês antes da abertura do Concílio Vaticano II, o papa João XXIII enviou uma mensagem ao mundo. Nela, o papa fala de Jesus como “luz” e da missão da Igreja de ‘irradiar’ essa luz no mundo; fala dos graves problemas do mundo atual e da preocupação e responsabilidade com esses problemas. Neste contexto, João XXIII acrescentou o que considera “outro ponto luminoso”: Pensando nos países subdesenvolvidos,a Igreja se apresenta e quer realmente ser a Igreja de todos,em particular, a Igreja dos pobres”.

O Concílio Vaticano II define o ser humano como portador da imagem divina e da dignidade humana.Existe uma memória que não pode desaparecer e que reconduz a Igreja inteira para aquilo que é o coração mesmo do Evangelho que a inspira e move: a bem-aventurança dos pobres,prediletos do Deus de Jesus.

O Papa Francisco lembrou em várias ocasiões da importância que a gratuidade e a pobreza devem ter na identidade da Igreja Católica e no anúncio da mensagem cristã.O anúncio da mensagem cristã “deve caminhar pela estrada da pobreza”. O testemunho desta pobreza: não tenho riqueza, a minha riqueza é apenas o dom que recebi,Deus.Esta gratuidade: está é a nossa riqueza.

No Brasil o Papa Francisco ao visitar a favela de varginha lembrou: “Um país, só é grande quando não deixa os pobres para trás”. Um dos temas que caracterizam o pensamento do Papa Francisco: evitar uma Igreja autossuficiente e autorreferencial e que, ao contrário,se transforme em uma Igreja que chegue a todas as periferias humanas. O convite constante de estar perto dos pobres.

Em suas palavras: “A Igreja é chamada a sair de si própria para ir até as periferias,não apenas as geográficas, mas também as periferias existenciais: as do mistério do pecado,as da dor,as da injustiça, as da ignorância e da abstenção religiosa, as do pensamento,as de toda a miséria”.

O Papa tem consciência que muitas pessoas não dispõem dos direitos mais elementares e dos bens mais essenciais para viver dignamente. Em sua homilia, por ocasião da inauguração de seu pontificado disse: “Uma Igreja que seja testemunha de uma vida simples e que tenha cuidado pelos mais frágeis”.

O Papa Francisco foi presidente da comissão de redação do Documento de Aparecida (2007). Nesta assembléia se reafirmou com vigor a opção preferencial pelos pobres, já de tradição latino-americana desde Medellín.Em diversas ocasiões,o então Cardeal Bergoglio, fez referência à identidade cristã que este lugar teológico dos pobres decide. Certa ocasião disse: “que somente na convivência com os pobres se aclara o conhecimento de Cristo”.

Voltar ao contato com os pobres como algo evangelicamente central e essencial, na solidariedade e no serviço, aprendendo assim a ser uma Igreja despojada, simples,servidora, certamente evangélica e fiel a Cristo.Ser pobres a serviço do Evangelho.

A atividade evangelizadora deve ser uma oferta de vida digna e plena para as pessoas. Uma missão alegre e generosa que chegue às periferias e que ponha ênfase nas verdades centrais e mais belas do Evangelho, sobretudo na pessoa de Jesus Cristo. Convida a crescer como discípulos humildes e disponíveis,amigos dos pobres.

Uma das questões portanto que mais marcam a vida e o ministério do Papa Francisco é a opção preferencial pelos pobres.Este tema se destaca no documento de Aparecida. A opção preferencial pelos pobres é um dos traços que marcam a fisionomia da Igreja latino-americana e caribenha.

Significativas são as palavras da Madre Teresa de Calcutá: “Sabemos quem são os nossos pobres. Conhecemos os nossos vizinhos,os  pobres da nossa área de residência. É fácil falarmos sem cessar sobre os pobres de outros locais. Muitas vezes, temos as pessoasvelhas, indesejadas, sentindo-se profundamente infelizes – que estão perto de nós e nós nem sequer as conhecemos. Nem sequer temos tempo para lhes sorrir”. E continua: “Deus continua hoje a mar tanto o mundo que entrega cada um de nós para amar o mundo,para sermos o amor Dele, a compaixão Dele. É um pensamento tão belo para nós – e é uma convicção – de que nós podemos ser esse amor e essa compaixão”.

A Igreja latino – americana é chamada a ser sacramento de amor,solidariedade e justiça entre nossos povos.A opção pelos pobres não deve ficar no plano teórico ou emotivo,pelo contrário deve incidir nos comportamentos e decisões.

”Pede que dediquemos tempo aos pobres,que lhes prestemos uma amável atenção,que os ouçamos com interesse,que os acompanhemos nos momentos mais difíceis,escolhendo-os para compartilhar horas,semanas ou anos de nossa vida e procurando,a partir deles,a transformação de sua situação.Não podemos nos esquecer de que o próprio Jesus propôs isto com seu modo de agir e com suas palavras: ‘Quando der um banquete,convide os pobres,osaleijados,os coxos e os cegos’ “.(Documento de Aparecida,n.397)

Prof. José Pereira da Silva

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