O Lábaro completa 110 anos de história

Por Pe. Jaime Lemes, msj

O Século XX foi o século das grandes descobertas e inovações, sobretudo no campo da comunicação: surgimento do rádio, da TV e da Internet. No entanto, a imprensa escrita, que teve início em 1440, quando Guttenberg inventou a prensa móvel, nunca deixou de ocupar um relevante espaço ao longo dos anos, até aos nossos dias. O Jornal O Lábaro, com a primeira edição publicada em 09 de janeiro de 1910, foi um dos mais importantes jornais do Vale do Paraíba, sendo um dos mais antigos jornais católicos do Brasil em atividade.

Em 7 de julho de 1909 foi criada a Diocese de Taubaté pelo papa São Pio X, tendo como seu primeiro bispo Dom Epaminondas. As duas primeiras ações mais relevantes do recém empossado bispo foram a publicação do jornal O Lábaro e a criação do Seminário Diocesano Santo Antônio.

A ideia de Dom Epaminondas era ter um canal de comunicação com os fieis católicos e com a sociedade para transmitir os valores da fé e refutar práticas e ideias que considerava nocivas à doutrina cristã. Daí um jornal cujo o nome já expressasse o seu propósito: O Lábaro.

Um nome significativo e um slogan motivador

O Lábaro, nome escolhido por Dom Epaminondas para o impresso, remete ao exército romano de Constantino, onde teve sua inspiração. Segundo a história, o então general Constantino marchou contra o exército de Maxêncio, imperador tirano que oprimia a cidade de Roma e toda a península italiana. Conta-se que o general e todo o seu exército viram surgir no céu uma cruz e a inscrição latina “In hoc signo vinces”, que quer dizer “com este sinal vencerás”. Naquela noite Constantino sonhou que Jesus lhe aparecera e mandara que fizesse um estandarte com uma cruz e a inscrição que lhe aparecera no céu. A partir de então, o lábaro (estandarte) de Constantino passou a seguir na frente do exército e a determinar que aquelas lutas eram travadas sob o sinal da cruz. Foram várias vitórias até que Constantino conseguiu tomar o império de Maxêncio. O lábaro passou, então, a ser o símbolo da vitória.

Dom Epaminondas, querendo ter um jornal corajoso como o exército de Constantino, que lutasse sempre sem perder a cruz de vista, e que fosse vitorioso em todas as suas empreitadas pela defesa da fé, adotou o lábaro como nome do jornal, colocando no seu logotipo as palavras “In hoc signo vinces”.

Primeiro editorial

No jornalismo, o editorial é a assinatura de jornal. Ali está expresso o posicionamento daquele veículo de comunicação e da instituição que o mantém. No primeiro editorial de O Lábaro, encontramos as rações que justificam a sua publicação, com destaque na divulgação dos trabalhos pastorais.

“Sentindo a necessidade imprescindível de um jornal dedicado exclusivamente à divulgação e à defesa da verdade católica e à publicação do desenvolvimento religioso nesta nova Diocese de Taubaté́, a primeira autoridade diocesana aplaudiu com a maior predileção a iniciativa da fundação de um novo periódico, nesta sede episcopal, destinado a ser por toda parte o mensageiro da boa doutrina e, na qualidade de jornal oficial da diocese, a publicar o expediente do bispado, a crônica do movimento religioso das paróquias sem descurar das notícias e de outros escritos que a todos possam interessar na ordem científica, política, econômica, literária e social”.

O Século XX, com o vertiginoso avanço das ciências, foi também um século em que as instituições tradicionais, especialmente a Igreja Católica, foram fortemente questionadas e atacadas por movimentos intelectuais, que defendiam laicização da sociedade. O Lábaro surgiu também com o objetivo de realizar uma verdadeira cruzada em defesa da tradição e da doutrina cristã, promovendo um jornalismo diferenciado, com qualidade e credibilidade.

“Nos tempos atuais em que a sistemática é a perseguição do sectarismo incrédulo contra os princípios conservadores da ordem social e moral consubstancializados na verdade católica, arrasando a sociedade humana, por meio da imprensa ímpia e pornográfica, ao plano vertiginosamente inclinado da descrença religiosa e da depravação moral, o bom jornal, por mais humilde que seja no fundo e na forma pela ação preponderante que deve exercer, será o lábaro em que se pode inscrever esta grandiosa divisa: In hoc signo vinces”.

A primeira fotografia

O Lábaro surgiu como um periódico semanal e assim permaneceu por muitos anos. Com o padrão editorial da época, os textos sempre tiveram a primazia. A primeira fotografia apareceu na edição de número 15, de 14 de abril de 1910, no tamanho 12cm x 10cm . Trata-se de um retrato de Dom José Pereira da Silva Barros , por ocasião de seu 12º aniversário de morte.

O texto-legenda, em linguagem rebuscada, trazia a seguinte informação:

“O Lábaro, interpretando mui sinceramente os sentimentos de profunda gratidão da Diocese de Taubaté para com o magnânimo e inolvidável taubateano D. José Pereira da Silva Barros, cumpre o mais sagrado dever prestando humilde homenagem à sua memória imorredoura”.

Atualização do projeto gráfico e mudança de nome

A primeira reforma gráfica de O Lábaro foi realizada em 1914, modificando totalmente seu projeto original e adotando o seguinte slogan: “Jornal católico de maior circulação no Norte de São Paulo”. Depois disso, somente 11 anos mais tarde, em 1925, é que outra alteração significativa foi realizada no periódico. No entanto, dessa vez, as mudanças foram muito além da atualização de seu visual gráfico, houve uma mudança drástica, de nome. O periódico passou a se chamar O Santuário de Santa Teresinha, conforme anunciado nas edições de número 824 e 825, dos dias 11 e 24 de dezembro, respectivamente, com o seguinte editorial:

“O Lábaro, que mercê de Deus, nenhuma intermitência sofreu durante esse longo período, cessará sua publicação. Morrerá, então, o apreciado paladino da causa católica? Não! Passará apenas por uma metamorfose que, como a Fênix da fábula, o fará renascer, glorioso e remoçado, sob o belo e auspicioso título de Santuário de Santa Teresinha. (…) Conforme declaramos, na 5ª. feira passada, publica-se hoje, pela última vez, com este título “O Lábaro”, que tendo atingido apenas à formosa idade da adolescência, despede-se dos seus caros assinantes e leitores, agradecendo-lhes as atenções com que o distinguiram durante os 16 anos de lutas e trabalhos em prol da causa católica e da pátria brasileira”.

Ressurgimento… a história continua até aos nossos dias

Em 1937, já com Dom André Alcoverde à frente da diocese de Taubaté, o periódico diocesano retoma as suas origens e volta a se chamar “O Lábaro”.

O Lábaro, na sua história centenária, acompanhou e imprimiu em suas páginas grandes acontecimentos , mudanças significativas na vida da Igreja e da sociedade. Hoje, não se serve mais como um estandarte de cruzada. O slogan constantiniano deu lugar a um propósito mais sóbrio e condizente com os novos tempos, com uma comunicação mais clara e atraente, sem, contudo, deixar de ser um instrumento de evangelização e de informação da vida pastoral da Diocese de Taubaté.

São 110 anos de uma história recheada de fatos e vidas que merecem ser celebrados com muito entusiasmo. Uma história que continua conosco e através de nossas mãos. Que O Lábaro, agora com nova cara e novas cores, continue nos tempos vindouros a sua relevante missão de comunicar e evangelizar!

Fonte: Jornal O Lábaro edição janeiro e fevereiro de 2020

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