Origens bíblicas do Ano Santo ou Jubileu
O Papa Francisco abrirá, no dia 8 de dezembro deste ano, um Ano Santo Extraordinário, para contemplação da Misericórdia. Preparando-nos para bem vivermos este ano de graça para a Igreja e para o mundo, iniciaremos neste mês uma sequência de artigos sobre o significado do Ano Santo e seus principais símbolos. Neste primeiro artigo queremos remontar à tradição do Antigo e do Novo Testamento para compreendermos as origens do Jubileu ou Ano Santo, celebrados pela nossa Tradição Católica.
O povo do Antigo Testamento conhecia o ano jubilar, que era celebrado a cada 50 anos. O livro do Levítico apresenta, com detalhes, as prescrições para a celebração Jubilar (Lv 25,8-12). Assim como no sétimo dia da semana, todos deveriam descansar, a cada sete anos; a terra também deveria repousar para que, após este período de descanso, ela pudesse ser cultivada novamente. A cada sete semanas de anos, ou seja, depois de 49 anos, haveria um grande Jubileu. No 50º ano, não só a terra teria o seu descanso, mas, seria realizada a compensação da desigualdade social, com o perdão das dívidas e devolução de campos e bens comprados dos pobres que não puderam se sustentar no decurso dos anos anteriores. Seria a festa do perdão.
A partir do repouso e do perdão das dívidas, recobra-se o fôlego para a reconstrução do que foi destruído. O profeta Isaías acena para essa consequência do Ano Jubilar, no capítulo 61, 1-4 de seu livro (principalmente no versículo 4, que nem sempre é valorizado e perceptível quanto os versículos antecedentes): “O espírito do Senhor repousa sobre mim, porque o Senhor consagrou-me pela unção; enviou-me a levar a boa nova aos humildes, curar os corações doloridos, anunciar aos cativos a redenção, e aos prisioneiros a liberdade; proclamar o Ano da Graça do Senhor, e um dia de vingança de nosso Deus; consolar todos os aflitos, dar-lhes um diadema em vez de cinzas, o óleo da alegria em vez de vestidos de luto, cânticos de glória em lugar de desespero. Reconstruirão as ruínas antigas, reerguerão as relíquias do passado, restaurarão as cidades destruídas, repararão as devastações seculares”.
O Senhor Jesus retomou esta profecia de Isaias na sinagoga de Nazaré, acrescentando, logo após a leitura, sua conclusão: “Hoje se cumpriu esta passagem da Escritura que acabastes de ouvir” (Lc 4,21). Ou seja, com a Encarnação de Deus entre os homens, o Ano da Graça, do Perdão e da Misericórdia foi proclamado de forma definitiva e irrevogável: toda a história tornou-se jubilar!
Todavia, o homem, ser ritual por natureza, é marcado pela temporalidade. Respeitando tais características humanas a Igreja acolheu a ideia de um ano especial de graça, transformando-a em realidade com o surgimento do Ano Santo ou Ano Jubilar. O Papa Bonifácio VIII estabeleceu, pela primeira vez na história da Igreja, um Ano Santo, em 1300. A partir de então, deveria ser celebrado a cada 100 anos. O Papa Clemente VI (1342-1352) antecipou o período para cada 50 anos, dada a brevidade da vida humana. O Papa Urbano VI (1378-1389) diminuiu o período novamente, para cada 33 anos (o tempo estimado de vida de Cristo). Em 1475, o Papa Sisto IV, encurtou mais uma vez o período entre os anos jubilares, colocando um intervalo de 25 anos. No entanto, entre tais períodos previstos para a realização dos Jubileus ordinários, tem havido celebrações de Ano Santo para a comemoração de circunstâncias excepcionais. Assim, Pio XI determinou que fosse celebrado um, em 1933, como recordação dos 1900 anos da morte redentora de Cristo e, João Paulo II, em 1983, fez o mesmo, em memória dos 1950 anos do mesmo evento salvífico.
O último jubileu ordinário foi celebrado a poucos anos. Foi precedido por uma intensa preparação intitulada “Rumo ao novo Milênio”, entre os anos 1997 a 1999 e celebrado durante todo o ano 2000. Muitos de nós carregamos vivamente em nossa memória as riquezas espirituais e eclesiais vivenciadas neste Ano Santo promulgado pelo Santo Papa João Paulo II.
Por graça divina, o Papa Francisco decidiu convocar um Ano Santo Extraordinário para a contemplação da Misericórdia Divina. Ele terá início no dia 8 de dezembro de 2015, solenidade da Imaculada Conceição, com a abertura da Porta Santa da Basílica de São Pedro, no Vaticano. O Ano Jubilar terminará na solenidade litúrgica de Jesus Cristo Rei do Universo, no dia 20 de novembro de 2016, quando a referida porta será fechada novamente. Percebe-se que o símbolo da Porta é muito eloquente dentro das propostas do Ano Santo. O Papa, inclusive, estendeu o privilégio da Porta Santa para todas as Catedrais do mundo. Sobre o significado desse gesto, no entanto, iremos discorrer em nosso próximo artigo.
Pe. Roger Matheus dos Santos
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