Só Deus pode salvar. Por que então os católicos vivenciam com tanta intensidade a devoção à Mãe de Deus? Se ela é uma criatura como qualquer um de nós, como explicar então a devoção cristã a Maria?
O primeiro título atribuído a Maria pela Igreja vem do dogma mariano da “Mãe de Deus”, no Concílio de Éfeso, no ano de 431. Ela é Mãe de Deus pois, em seu corpo humano, biológico, concebeu e deu à luz Jesus Cristo, o homem-Deus, o Filho de Deus. Mas Jesus a entregou como mãe também dos seus discípulos, isto é, como Mãe da Igreja, quando disse: “Mulher, eis aí o teu filho”, e a João, “Eis a tua mãe” (Jo 19,26-27). Claro que Jesus não estava falando simbolicamente – um momento de tanta dor como aquele não permitia essa forma de linguagem – e nem se referia a uma maternidade “natural” de Maria, mas ele a chamava de mãe espiritual da Igreja, ou, como diz o Concílio, ele falava de Maria como “nossa Mãe na ordem da graça” (LG 61).
Por isso, desde o começo do cristianismo, os discípulos de Jesus aprenderam a amar Maria como os filhos amam a Mãe (cf. At 1,14). Nós preservamos essa tradição, trazendo para os dias atuais essa verdade da revelação, acreditando que, do céu, Maria continua a se interessar por nós, irmãos do seu Filho, que é o Filho de Deus, cuidando de nós, derramando sobre nós graça e proteção.
Paulo VI a chamou de “Mãe da Igreja”. Com isso, não estava estabelecendo um novo dogma de fé, mas apenas explicando e desdobrando aquilo que, desde o começo, os apóstolos e os demais irmãos sentiam: Maria é a Mãe de todos nós!
Os cristãos, por amor filial e piedade, foram atribuindo nomes específicos à Mãe de Deus e nossa. Às vezes, ao nome de Maria acrescentaram o nome de um lugar onde ela apareceu (de Lourdes, de Fátima, de Guadalupe…); outras vezes, ligaram o seu nome com alguma dimensão do mistério de Deus (Graça, Luz, Glória, Misericórdia, Rosa Mística, etc…) ou então, a necessidades humanas bem explícitas (Bom Parto, Perpétuo Socorro, Saúde, Ajuda…). Mas sempre conscientes de que se trata sempre da mesma e única Maria de Nazaré, a Mãe de Jesus que os católicos amam e veneram.
Mas, por detrás de tais nomes, se esconde um mistério de Deus: Ele deu Maria por mãe a todos os povos, a todas as gentes, a todas as nações, porque deseja salvar a todos (cf.1Tm 2,4); e por isso o nome de sua Mãe se liga às vezes a lugares… Ou, então, aquilo que Deus é em si mesmo, Ele o confia a ela como missão (Graça, Luz, Misericórdia, Perfume Místico…). Ou então, Ele entrega à proteção materna o atendimento às necessidades mais urgentes de seus filhos e filhas. Em suas mãos, Deus coloca o dom da salvação para a humanidade, como um dia colocou em seu ventre o Seu próprio Filho Salvador.
No Brasil, nós a chamamos carinhosamente de Senhora Aparecida, porque a imagem de N. Sra. da Conceição “apareceu” nas redes de três pobres pescadores no Porto de Itaguassu, no Rio Paraíba, em outubro de 1717. O povo católico brasileiro entendeu que naquela “aparição”, Deus trazia a mensagem de que ama os sofredores, os pobres, os pequenos, os que sofrem preconceitos de raça, de cor, de cultura…
O povo humilde e simples começou a rezar diante da pequena imagem da Virgem, e então, muitos milagres começaram a acontecer. Do pequeno oratório onde foi colocada a imagenzinha, na casa dos Pedroso, surgiu a primeira Capela até que se construísse o novo templo inaugurado no ano de 1888, elevado à dignidade de Santuário. Em 1908, com a coroação da imagem, a Igreja recebeu o título de Basílica. A Senhora Aparecida foi declarada Padroeira do Brasil em 1930, “para promover o bem espiritual dos fiéis e aumentar cada vez mais a devoção à Imaculada Mãe de Deus”. Em 1967, o Papa Paulo VI ofereceu a “Rosa de Ouro” à Basílica de Aparecida. Em 1980, o Papa João Paulo II fez a dedicação da nova Basílica Nacional.
Característica marcante das aparições em geral é que é, sobretudo aos pobres, às crianças, aos inocentes… que a Mãe de Deus prefere se manifestar, fazendo dessas criaturas frágeis, missionários corajosos da Palavra de Deus que ela traz. Basta olhar para os pastorinhos de Fátima; para o índio Juan Diego em Guadalupe; para a simples Bernadete Soubirous, em Lourdes; para a humilde enfermeira Pierina Gilli, em Montichiari, ou para os três humildes pescadores – Filipe, Domingos e João – em Itagassu, no caso de Nossa Senhora Aparecida.
Assim acontece com as coisas de Deus: começam sempre na humildade, na pequenez, na fragilidade, no recolhimento e no silêncio, e pouco a pouco vão mostrando que o Senhor está ali, revelando seu amor e transformando corações e situações.
Diferentes nomes, diferentes mensagens, diferentes povos e distintas nações… É como se a Mãe de Deus estivesse dizendo: “Sou eu, a mesma Mãe de Deus e a mesma Mãe de vocês. Amo a todos com uma mãe ama todos seus filhos.Confiem em mim, e eu os conduzirei a Jesus!”
Pe. Osmar Cavaca
É teólogo e professor na Faculdade Dehoniana de Taubaté
Fonte: O Lábaro – novembro/2015
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