Fraternidade e diálogo

“Irmãos, os judeus pedem sinais milagrosos, os gregos procuram sabedoria; nós, porém, pregamos Cristo crucificado, escândalo para os judeus e insensatez para os pagãos” (1Cor 1, 22-23). Versículos da Segunda Leitura do Terceiro Domingo da Quaresma.

Vem de longe já, a tentação de querer definir o cristianismo a partir do seu ponto de vista pessoal ou de seu grupo incluindo as demais visões.

Hoje não são mais gregos e judeus, mas, novos grupos com tendências ao tradicionalismo e outros ao progressismo que se lançam em uma disputa pela definição do que é ser cristão, do que é ser Igreja sem nenhuma  sensibilidade fraterna ou senso de comunhão de modo a prestarem um desserviço para a evangelização.

Palavras intimidadoras e ofensivas, no afã de calar quem pense diferente proliferam nas redes sociais. Tenho que concordar com Padre Zezinho, scj, que escreveu em seu blog:

“A nenhum sujeito que se professa católico é permitido caluniar, denegrir e odiar qualquer pessoa. O direito de discordar não dá a nenhum católico o direito de odiar ou semear ódio e raiva”.

O apostolo Paulo apresenta o remédio para essa doença: o Cristo. Ele é a referência para a definição de cristão, é Ele o modelo a ser ouvido e imitado. É Ele a cabeça da Igreja. De acordo com o versículo 23 da citação acima, esse referencial, Cristo, contradizia as divisões na comunidade de Corinto sendo escândalo para uns e insensatez para outros. E hoje, como antes e assim sempre será, o Evangelho contradiz quem invoca o nome do Senhor para legitimar seu discurso de ódio, seu preconceito contra o diferente, sua aversão ao outro. Mais ainda, desautoriza qualquer uso de seu Nome para justificar segregar pessoas, diminuir direitos de alguém, promover guerra santa contra o próximo, enfim, praticar qualquer violência ou fazer mal ao irmão. Porque isso é pecado.

Grande objetivo da Campanha da Fraternidade Ecumênica deste ano é exatamente promover a conversão para o diálogo e a unidade, princípios evangélicos irrenunciáveis para os cristãos. Por isso, a Campanha de 2021 denuncia as chagas abertas na sociedade, entre os cristãos e mesmo na Igreja Católica causadas pelo discurso de ódio, pela polarização ideológica e pelas violências que pretendem se legitimar a partir da fé.

Ainda no Terceiro Domingo da Quaresma ouvimos do Evangelho de João como Jesus se revolta contra o uso indevido da religião para fins nada fraternos. Sua resposta aos que o questionavam sobre sua atitude é lapidar: se a religião não promove o bem corrompendo os mandamentos divinos, ela deve se converter para Ele, o Cristo Salvador.

Pe. Silvio José Dias

Texto Publicado no Jornal O Lábaro edição de março/2021

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