Envelhecer: tempo de aprender e valorizar o que permanece

Há uma citação de Pitágoras que nos diz que: “uma bela velhice é,ordinariamente,uma recompensa de uma bela vida”.

Também é freqüente ouvirmos afirmar que se envelhece e morre tanto melhor quanto melhor se viveu.De fato,a angústia do envelhecimento não é apenas a antevisão da morte,mas o receio da perda de dignidade,de perda de autonomia,da lentidão incapacitadora,da desvalorização de uma imagem construída ao longo da vida e baseada,entre outros aspectos,na admiração e no respeito dos outros.

Apesar de tudo isto,sabemos que muitos envelhecem e conseguem ser felizes.Porque acreditam em si próprios,porque vivem um dia de cada vez,porque não param a aguardar o tão temido fim,porque não se dedicam às novas limitações,mas aceitam-nas,agradecendo e rentabilizando as competências que mantêm.

Não podemos interromper o curso dos dias e dos anos,mas podemos apostar em cada momento como se fosse o mais importante da nossa vida,com reconhecimento pelo que somos e não com a angústia do que desejávamos ser ou daquilo que já fomos.Deste modo,estaremos construindo razões para ser felizes até o último dia da existência,que não temos a capacidade de adivinhar(seja com que idade for).Enquanto estamos vivos a nossa tarefa é viver e lutar pela qualidade do que fazemos.

Há duas perspectivas que devem se ter em conta: a cultura do idoso no que respeita ao seu próprio envelhecimento e a mentalidade social predominante e difundida sobre a pessoa idosa.

O modelo da eterna juventude ganha terreno no dia a dia e ignora o desenvolvimento interior,não obstante a novidade da experiência que o envelhecimento pode trazer,ainda que seja assinalada pela perda de capacidades e da percepção dos limites.

Quando uma sociedade não preza,nem cuida dos seus idosos,nega a sua própria identidade e,por isso,adoece e “adolesce”.É desafio ajudar os idosos a conservarem sua autonomia e participação,alertando para a necessidade de mais recursos e serviços.

A respeito dos idosos disse o Papa Francisco: “Em muitos ambientes,e em geral neste humanismo economicista que se nos impôs no mundo,abriu-se caminho a uma cultura da exclusão,uma ‘cultura do descartável’.Não há lugar para o idoso nem para o filho indesejado;não há tempo para se deter com aquele pobre na rua”(Homilia na missa com bispos,padres,religiosos e seminaristas,27.07.2013).

E no encontro com jovens alertou: “Os idosos são vítimas de uma ‘espécie de eutanásia escondida’,porque não são devidamente acompanhados,e também de uma ‘eutanásia cultural’,porque são impedido de falar e atuar”(Jornada Mundial da Juventude,25.07.2013).

Uma cultura sã é chamada a ver no envelhecimento a beleza da tranqüilidade,da ternura e o silêncio,e não apenas a aspereza da doença e da solidão.

A espiritualidade cristã sustenta a aceitação dos limites,a reconciliação com a vida relida e a preparação para o encontro com Deus.

A espiritualidade cristã olha para o envelhecimento como o cumprimento da vida,distinguindo entre o declínio físico e o crescimento do espírito,ao mesmo tempo que realça a importância da vida espiritual vivida enquanto acolhimento da terceira idade como uma bênção.

Envelhecer tem as suas desvantagens,mas também oferece algumas bênçãos singulares.Pode lembrar-nos das coisas que ficam e daquelas que se desvanecem,das fontes onde as nossos corações se saciam e daquelas onde tal nunca aconteceria.Pode impelir-nos a deixar o que não interessa e abraçar a vida autêntica,não apenas aparências.

Devemos agradecer a Deus por Ele nos oferecer o dom do tempo,tempo para crescer interiormente e para aprender a valorização do que permanece para sempre.Agradeça a Deus e deixa-o entrar sem reservas na sua vida.

Prof.José Pereira da silva

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