DOMINGO É NOSSA PÁSCOA SEMANAL

No Antigo Testamento, para os judeus, o dia consagrado ao Senhor era o sétimo dia da semana, ou seja, o sábado. Com a intenção de dar um significado religioso à semana, que marca o ritmo de nossa vida, o primeiro capítulo do livro do Gênesis, apresentou a obra da criação no período de uma semana. Nos seis primeiros dias Deus realizou a obra da criação e no sétimo “descansou”, após concluir uma obra “muito boa” (cf. Gn.1,31). A intenção era dar uma dimensão religiosa à semana relacionando-a com o trabalho e o repouso de Deus, consagrando assim a atividade humana. No Novo Testamento, com a ressurreição de Cristo no domingo, o primeiro dia da semana, este ficou consagrado como o dia do Senhor.  Pela ressurreição de Cristo, nós fomos recriados; recebemos vida nova em Cristo, fomos resgatados do pecado e da morte (cf. 2Cor.5,17). Desde o domingo da ressurreição de Jesus até hoje os que são discípulos do Senhor se reúnem aos domingos para celebrar a Páscoa semanal e os dons da “recriação” e da salvação. Um episódio narrado no evangelho, escrito por João (20,19-31), apresenta o Senhor ressuscitado que se faz presente junto aos discípulos, que estavam reunidos no domingo da ressurreição e também no seguinte. A partir desse texto, vamos destacar e considerar sete motivos que nos revelam o valor e a importância do domingo para nós cristãos.

  • Segundo o relato bíblico, acima citado, ao anoitecer daquele primeiro dia da semana, ou seja, no próprio dia da ressurreição, Jesus entrou e pôs-se junto dos discípulos que estavam reunidos, naquela ocasião. Naquele dia Tomé não estava com eles. Oito dias mais tarde, ou seja, no domingo seguinte, os discípulos estavam reunidos e Jesus, novamente, se colocou junto deles. Assim se confirmava o que dissera: onde dois ou mais estiverem reunidos em meu nome eu estarei com eles (cf. Mt.18,20). Desde os primeiros tempos da vida da Igreja, os discípulos de Jesus se reúnem em seu nome. Reunir-se em comunidade é uma forma de encontrar o Senhor que se faz presente, especialmente, por meio de sua Palavra e da Eucaristia.
  • Estando com os discípulos, Jesus os saúda repetidas vezes, dizendo: “A paz esteja convosco!” A paz é o dom do Ressuscitado! Por sua morte e ressurreição, Jesus nos restaurou e nos resgatou do pecado, que desfigura nossas relações com Deus e com o próximo. A paz é a condição do ser humano reconciliado com Deus, consigo mesmo, com os seus semelhantes e com toda a criação. A paz é fruto da condição harmoniosa que brota da relação filial para com Deus, fraterna com o semelhante e de senhor que cuida da criação, segundo o projeto de Deus.
  • Depois de desejar-lhes a paz, Jesus mostrou-lhes as mãos e o lado aberto pela lança. Com isso, o Senhor ensina seus discípulos que o Ressuscitado é o mesmo que foi crucificado. Ele até poderia ter ressuscitado com suas chagas cicatrizadas, mas esse sinal foi mantido para animar e ensinar aos discípulos que os sofrimentos e a morte não têm a palavra final da história e que, para ressuscitar é necessário enfrentar os desafios da vida, mantendo confiança em Deus.
  • Jesus disse aos discípulos reunidos: Como o Pai me enviou, também eu vos envio. O Ressuscitado faz com que seus discípulos participem da mesma missão que o Pai lhe confiou. Portanto, o cristão, tendo a vida restaurada, torna-se responsável em proteger e promover a vida onde quer que ela se apresente ameaçada. Além disso, também participa da missão de anunciar a Palavra que liberta e salva e de conduzir os irmãos a Deus.
  • Depois, Jesus soprou sobre os discípulos e disse: “Recebei o Espírito Santo”. Isso recorda o sopro de vida do Criador sobre o homem modelado da terra, dando vida ao ser terreno (cf. Gn.2,7); assim, o Ressuscitado transmite vida nova aos discípulos que estão reunidos em seu nome. Ele os recria! Os que acolhem o Cristo são conduzidos pelo Espírito Santo e destinados à ressurreição e à vida em comunhão com Deus, na eternidade.
  • Jesus diz aos discípulos: “A quem perdoardes os pecados eles lhes serão perdoados; a quem não os perdoardes eles lhes serão retidos”. Assim, por mandato do próprio Jesus e por intermédio daqueles que Ele enviou, todos poderão receber o perdão e viver reconciliados desfrutando da graça e da comunhão com Deus. O Ressuscitado é fonte de perdão, de vida e de salvação para todos os que O buscam e vivem unidos como igreja.
  • Por fim, na manifestação do Ressuscitado aos discípulos reunidos, há a cura da vacilante fé de Tomé. Aquele que, no dia da ressurreição do Senhor, não estava com os discípulos não acreditou no testemunho dos que tinham encontrado o Ressuscitado. Porém, no domingo seguinte, estando unido à comunidade, a falta de fé lhe foi curada. Vendo, ele acreditou. Não simplesmente acreditou no que viu, mas, vendo Jesus ressuscitado professou sua fé proclamando-O como Senhor e Deus. Estar unido à comunidade faz superar a descrença e fortalece a fé.

A partir desses elementos destacados do texto de João 20, 19-31 podemos perceber os dons do Ressuscitado, comunicados à comunidade dos discípulos que se reúnem no domingo, dia de nossa Páscoa semanal. Reflita sobre isso com alguém de sua família ou com quem ainda não entende e não consagra o domingo como dia do Senhor.

Dom Wilson Angotti
Bispo Diocesano de Taubaté

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