Amor em família – vocação e caminho de santidade

Em sintonia com o 10º encontro do Papa com as Famílias, que ocorre em Roma, nossa Diocese de Taubaté, unida a tantas outras pelo mundo, também participa realizando evento local e refletindo o mesmo tema: “O amor em família – vocação e caminho de santidade”. Dirigindo-me especialmente às famílias, proponho-lhes esta reflexão. O apóstolo São João diz que Deus é amor e quem ama conhece a Deus e permanece em Deus (1Jo.4,7.12). Nós permanecemos unidos a Deus à medida em que vivemos o amor. Jesus pede que nós, seus discípulos, nos distingamos pela vivência do amor: “nisto conhecerão que sois meus discípulos, se vos amardes uns aos outros” (Jo.13,35). A vivência do amor nos distingue como cristãos e faz com que Deus seja sempre lembrado no cotidiano da vida, em meio às nossas atividades diárias, nosso trabalho, nossos relacionamentos e em nossa família. Entre os cristãos, o amor que une um homem e uma mulher é sinal do amor de Cristo por sua Igreja (cf. Ef.5,32). Assim, o amor selado pelo Matrimônio se constitui como sacramento, isto é, como um sinal do amor de Cristo por nós. O amor humano é sinal do amor de Deus. Pela vivência do amor, podemos conhecer e sentir a proximidade e o amor de Deus por nós.

                               Deus se fez próximo a nós porque nos ama. O amor conduz ao encontro, à comunhão. Em Jesus Cristo, Deus veio ao nosso encontro e estabeleceu comunhão conosco. Por sermos amados, somos também chamados ao amor, pois todo amor espera um amor de correspondência. Todos nós, sem exceção, somos amados por Deus e chamados ao amor. Do amor nós nascemos e ao amor nós somos destinados. De alguma maneira, nós experimentamos o amor pelo cuidado que nos foi dedicado e que nos possibilitou nascer, sobreviver, nos alimentar, crescer, nos desenvolver como pessoa. Isso experimentamos, especialmente, na família. Não existem famílias perfeitas e, muitas pessoas nem desfrutaram do aconchego de uma família; porém, só o fato de existirmos e nos desenvolvermos já revela que fomos alvos da atenção e, por que não dizer, do amor de alguém. O amor recebido nos provoca a uma atitude de amor e nos capacita a amar. A família é o ambiente propício para aprendermos a amar. No relacionamento familiar nós somos treinados a superar o egoísmo, que nos faz pensar só em nós e em nossos interesses, e a nos voltarmos para os outros. No relacionamento familiar, em todas as fases da vida, desde a mais tenra infância à velhice, nós vemos muitos exemplos de como o amor se faz dedicação pelo bem e a felicidade dos outros. O amor assim vivido nos provoca, nos chama e nos capacita a vivermos atitudes semelhantes. O amor encerra um paradoxo: quanto mais pensamos nos outros e menos em nós, mais felizes seremos. Esta é a dinâmica do amor e é isso que torna nossa vida pessoal e familiar mais feliz.

                               Deixar de viver para nós mesmos e viver em doação de amor é um aprendizado processual que deve amadurecer e se intensificar a cada dia. Amar é ter em vista sempre o bem e a felicidade dos outros; é não viver para si, mas ter a atenção voltada para a pessoa amada. Um tal altruísmo, não se consegue da noite para o dia, mas, aos poucos, por pequenos gestos de doação que se repetem até se tornarem sempre mais consistentes e significativos. Só o amor nos capacita à renúncia de nós mesmos e a viver pelos outros. Aquilo que o dinheiro não pode comprar, o amor oferece na gratuidade de gestos diários e de vida doada. Isso podemos identificar nas atitudes de pais que se desdobram pelos filhos, como também de filhos que cuidam com desvelo de seus pais idosos ou doentes. Quem assim vive na dedicação pelos outros segue o exemplo de Jesus e atende ao que Ele nos deixou como maior mandamento, é conduzido pelo Espírito de Deus e faz um caminho da santificação. Por esse meio, nos unimos a Deus e lhe demonstramos nosso amor. Assim, podemos dizer que o amor é nossa vocação e, ao mesmo tempo, caminho de santidade. O amor revela o sentido mais profundo de nossa vida. Saúdo e rezo por todas as famílias que, em meio a tantos desafios e dificuldades, se empenham em viver o amor. Que este se intensifique e se aperfeiçoe a cada dia. Deus abençoe sua família e a todas que estão dispostas a viver o amor.

Dom Wilson Angotti
Bispo Diocesano de Taubaté

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