A espiritualidade a partir do toque

Conduzidos pela luz do Santo Espírito, os cristãos são chamados a nutrirem a sua vida espiritual, consonantemente aos seus afazeres e responsabilidades diárias.  Alimentar a espiritualidade, principalmente em nosso tempo, é um árduo trabalho que exige criatividade e esforço. Dizia o Cardeal José Tolentino: “Queria apenas colocar devagar as minhas mãos dentro das tuas. E isso ser, Senhor, a minha oração e minha vida.” Aqui está um dos modos de vivermos nossa espiritualidade, unificada ao nosso cotidiano, em nosso tempo: tocando as feridas das mãos do Senhor!

Para isso, dois são os possíveis meios de nos aproximarmos e tocarmos as Suas mãos: primeiramente, tocando as chagas de nossas próprias misérias: assumindo aquilo que somos capazes de realizar, sem medo de quem realmente somos; deparando com os nossos desejos e anseios, principalmente os mais obscuros e vergonhosos, e não os mascarar; despindo-nos diante do Senhor, como somos, para rezarmos nossas fraquezas. Assim, faremos como o Apóstolo Tomé: aproximaremos e tocaremos as chagas do Ressuscitado.

Porém, também seremos capazes de tocarmos as mãos do Senhor quando nos aproximarmos de nossos irmãos, especialmente os mais feridos, pois, “A humanidade sempre precisa ser abraçada, mas com mais razão quando está ferida e se sente leprosa por causa do estigma, sem saber como se reconstruir”, dizia o mesmo Cardeal, José Tolentino.

Deste modo, compreendemos a exortação do Santo Padre, o Papa Francisco: “[…] prefiro uma Igreja acidentada, ferida e enlameada por ter saído pelas estradas, a uma Igreja enferma pelo fechamento e a comodidade de se agarrar às próprias seguranças”. Por essas palavras, Francisco nos exorta a não nos fecharmos em nossas seguras convicções, mas, sairmos ao encontro daqueles que necessitam, sendo sinal da misericórdia do Senhor- a qual um dia também nos tocou.

Nutriremos nossa espiritualidade não a partir de palavras vazias, soltadas ao vento, nem de discurso e ações moralizantes, encobertos da hipocrisia, mas, através do contado verdadeiro e sincero com o Senhor. Tenhamos a coragem de rezarmos as nossas misérias, lançando-nos no grande abismo da misericórdia de Deus e nos colocando diante Dele como realmente somos- sem rótulos, máscaras e penduricalhos-, abertos às suas ações, para assim, nos tornarmos autênticos anunciadores de sua Palavra e de sua misericórdia, indo ao encontro da humanidade ferida. Toquemos as chagas do nosso tempo!

José Carlos de Oliveira Júnior

 

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