Sínodo dos Bispos sobre a Família

Aberto oficialmente no domingo, 4 de outubro, no Vaticano, a 14ª Assembleia Ordinário do Sínodo dos Bispos teve por tema “A vocação e a missão da família na Igreja e no mundo contemporâneo”. O Sínodo dos Bispos sobre a Família foi encerrado no dia 25 de outubro. Participaram da Assembléia 270 delegados sinodais, uns representavam as conferências episcopais de países dos cinco continentes e outros nomeados pessoalmente pelo Santo Padre.
O Sínodo contou com 24 especialistas colaborando com os trabalhos, 51 auditores e auditoras e 14 delegados fraternos convidados como representantes de outras confissões cristãs.

Três cardeais e três bispos representaram os bispos do Brasil. O cardeal Dom Raymundo Damasceno Assis foi escolhido pelo Papa como presidente-delegado do Sínodo. Como delegados escolhidos pela CNBB participaram o seu presidente, Dom Sergio da Rocha e outros três bispos, Dom João Carlos Petrini, Dom Geraldo Lyrio Rocha, e o cardeal de São Paulo, Dom Odilo Pedro Scherer. Participou ainda, o Cardeal brasileiro João Braz de Aviz, por ser o prefeito da Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica, um dos dicastérios da Cúria Romana. Pela nomeação pontifícia, participou também, o arcebispo de Manaus (AM), Dom Sérgio Eduardo Castriani.

Outros brasileiros que participaram do Sínodo foram o Padre Antonio Moser, um especialista em Teologia Moral e Ética, que colaborou na secretaria especial; Ketty Abaroa de Rezende e Pedro de Jussieu Rezende, professores da Unicamp, casal envolvido com pastorais sobre os desafios da família na Arquidiocese de Campinas (SP), eles participaram como auditores no Sínodo; e Tiago Gurgel do Vale, trabalhou como assistente. O pastor luterano Walter Altmann, também presente no Sínodo, esteve entre os delegados fraternos representando o Conselho Mundial de Igrejas (CMI), no qual atuou como mediador.

Principais temas debatidos: “os desafios sobre a família”

Dom Raymundo Damasceno Assis, Cardeal Arcebispo de Aparecida, foi escolhido pelo Papa Francisco como presidente-delegado do Sínodo. Ele enviou um texto a O Lábaro, no qual resumiu os principais temas debatidos no Sínodo sobre a família.
Como informa o cardeal Damasceno, os pronunciamentos dos padres sinodais refletiram preocupação referente à atuação da própria Igreja em relação à família. A própria Igreja, num certo sentido, é responsável pela situação da família hoje, quando demonstrou uma atitude distante da realidade, muito normativa e sem uma visão integral. Outra preocupação dos interventores no Sínodo diz respeito à “ideologia do gênero” e os riscos de sua difusão e imposição nos programas das escolas, transformando-os num pensamento único que danifica a família.

Um dos pontos delicados debatidos durante o Sínodo foi a possibilidade dos casais divorciados e recasados civilmente terem acesso aos sacramentos da penitência e da eucaristia. O assunto esteve no centro dos últimos pronunciamentos de muitos Padres sinodais, tanto no plenário quanto no debates em círculos menores. Foram feitas diferentes abordagens à questão. Foi proposto que se acentuasse, de forma mais clara, os ensinamentos da Igreja sobre o matrimônio. Debateu-se a possibilidade dos divorciados recasados terem acesso não indiscriminado aos Sacramentos, permitindo uma abordagem personalizada, pois cada caso é um caso. Houve consenso quanto à necessidade de que os casais recasados civilmente devem ser acolhidos na comunidade. Mas até onde vai este acolhimento? Nesse ponto, foi exaltada a agilização, por parte do Papa Francisco, dos processos canônicos para a declaração de nulidade matrimonial.

Os Delegados Fraternos e casais auditores também tiveram oportunidade de se manifestarem. Os primeiros ofereceram muitos pontos de reflexão sobre a família desde a questão dos matrimônios mistos, de grande importância no caminho ecumênico, até às realidades das famílias em crise, que esperam conforto e acolhida, acompanhamento e não julgamento por parte da Igreja. Neste sentido, os Delegados Fraternos afirmam que a Igreja deve frisar o aspecto positivo e belo do sacramento do matrimônio. A família, recordam, é o berço do amor de Deus, no entanto, é preciso ressaltar alguns problemas contemporâneos que desafiam o núcleo familiar, tais como a homossexualidade, o drama da guerra e das migrações, a indigência e a adoção de crianças.

Por fim, os casais auditores, convidados especialmente para o Sínodo, abordaram aspectos referentes à família como a adequada preparação ao matrimônio, as vítimas de abusos sexuais por parte de membros do clero, a atenção dada aos idosos como contrapartida à “cultura do descarte”, o aborto, a procriação artificial, os matrimônios mistos e ainda o papel da mulher na família e na Igreja.

Relatório final do Sínodo

Ao final dos 22 dias que duraram o Sínodo, foi aprovado um relatório final. O texto foi aprovado no sábado, 24 de outubro e é composto por 94 parágrafos. Entre os temas presentes no Relatório foram abordados a indissolubilidade matrimonial, pessoas homossexuais e uniões homossexuais, migrantes e refugiados, valorização da mulher, crianças e idosos, fanatismo, individualismo, pobreza, precariedade no trabalho e preparação ao matrimônio.
O Relatório sublinha a beleza da família, Igreja doméstica baseada no casamento entre homem e mulher, “porto seguro dos sentimentos mais profundos, único ponto de conexão numa época fragmentada, parte integrante da ecologia humana, deve ser protegida, apoiada e encorajada”, apontaram os Padres sinodais.

O item 94 apresenta uma conclusão das reflexões do Sínodo, com pedido ao papa Francisco para que avalie a possibilidade de publicação de um documento final sobre a família. “Reunidos no Sínodo em torno do papa Francisco, agradecemos-lhe por nos ter convocado para refletir, sob a sua orientação, sobre a vocação e a missão da família hoje. Oferecemos-lhe o fruto do nosso trabalho com humildade, na consciência dos limites que ele apresenta”, expressaram os padres sinodais na introdução do relatório final do Sínodo dos Bispos sobre a Família.

Importante momento deste final de Sínodo foi a intervenção do Papa Francisco com uma mensagem em que realçou a importância de defender o homem e não as idéias, defender o espírito e não a letra da doutrina. Após os vários agradecimentos a todos os que contribuíram para um percurso sinodal de intenso ritmo de trabalho o Papa Francisco disse ter-se interrogado sobre o que “há-de significar, para a Igreja, encerrar este Sínodo dedicado à família?” Muitas as respostas encontradas pelo Santo Padre para completar o significado do Sínodo: a importância do matrimónio, escutar as vozes das famílias e dos pastores, olhar e ler a realidade, testemunhar o Evangelho como fonte viva de novidade eterna, afirmar a Igreja como sendo dos pobres e dos pecadores e abrir horizontes para difundir a liberdade dos Filhos de Deus.

Em particular, o Papa Francisco considerou que a experiência do Sínodo fez compreender melhor que defender a doutrina é defender o seu espírito e o homem em vez de idéias: “A experiência do Sínodo fez-nos compreender melhor também que os verdadeiros defensores da doutrina não são os que defendem a letra, mas o espírito; não as idéias, mas o homem; não as fórmulas, mas a gratuidade do amor de Deus e do seu perdão.”
O Papa Francisco e o significado do Sínodo

Que “a Igreja seja ponte, não barreira”, convidou o Papa Francisco em seu discurso de abertura do Sínodo dos bispos sobre a família. No discurso final encerrando os trabalhos do Sínodo, o Papa apresenta a sua conclusão sobre o que significou para ele, o percurso sinodal. Mais uma vez, o Papa evidencia que é preciso adotar uma atitude positiva e não negativa frente aos desafios que se impõe quer seja para a família, ou mesmo para a missão evangelizadora.
Numa nota de rodapé, a última, o Santo Padre resume qual é a missão da Igreja e sua tarefa na promoção da família. Para falar do que ele espera como resultado do Sínodo, o Papa usou as letras da palavra família.

O Papa lembra o dever da Igreja em formar as novas gerações para o sentido do verdadeiro amor, que não se baseia “apenas no prazer e no ‘usa e joga fora’”. Os jovens devem compreender que o verdadeiro amor está inscrito no desígnio divino sobre a conjugalidade, que o matrimônio é uma vocação que cumpre a vontade de Deus, defendendo “a sacralidade da vida, de toda a vida”, que se concretiza na unidade e indissolubilidade do vínculo sacramental assumido “como sinal da graça de Deus e da capacidade que o homem tem de amar seriamente”. Para isso, a Igreja precisa “valorizar os cursos pré-matrimoniais como oportunidade de aprofundar o sentido cristão do sacramento do Matrimónio”.

Fiel a sua visão de uma “Igreja em saída”, o Papa afirma que é preciso ajudar a família a sair de si mesma e ir ao encontro dos outros. Considerando a família como célula da Igreja, o Papa diz que “uma Igreja fechada em si mesma é uma Igreja morta; uma Igreja que não sai do seu aprisco para procurar, acolher e conduzir todos a Cristo é uma Igreja que atraiçoa a sua missão e vocação”.

Querendo uma Igreja sempre próxima das pessoas, principalmente dos mais pobres, o Papa recorda as famílias mais pobres e necessitadas, os idosos ignorados pela família e pela sociedade, os filhos que sofrem com a separação dos pais, os que se mantêm longe, os deficientes e “os casais dilacerados pela dor, a doença, a morte ou a perseguição”.

Concluído o Sínodo, será missão da Igreja, recuperar “com humildade a confiança na Igreja, seriamente diminuída por causa da conduta e dos pecados dos seus próprios filhos; infelizmente, o contratestemunho e os escândalos cometidos dentro da Igreja por alguns clérigos afetaram a sua credibilidade e obscureceram o fulgor da sua mensagem salvífica”.

Importante missão da Igreja depois do Sínodo será renovar a Pastoral Familiar. Na visão do Papa Francisco, essa pastoral deve atuar sempre a partir do Evangelho, respeitando as diferenças culturais. A Pastoral Familiar deve ser “capaz de transmitir a Boa Nova com linguagem atraente e jubilosa e tirar do coração dos jovens o medo de assumir compromissos definitivos; uma pastoral que preste uma atenção particular aos filhos que são as verdadeiras vítimas das lacerações familiares; uma pastoral inovadora que implemente uma preparação adequada para o sacramento do Matrimónio e ponha termo a costumes vigentes que muitas vezes se preocupam mais com a aparência duma formalidade do que com a educação para um compromisso que dure a vida inteira”, indicou o Papa na nota.

Fonte: Jornal O Lábaro – novembro/2015

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