Padre Zezinho: 50 anos de sacerdócio – um coração a serviço de Deus e do povo

Por Pe. Jaime Lemes, msj

“No peito eu levo uma cruz; no meu coração, o que disse Jesus”. Foi com essa inspiração, transformada em uma de suas milhares de canções, que o mineiro de Machado, José Fernandes de Oliveira, seguiu o caminho do sacerdócio, realizado com arte musical. Neste gostoso bate-papo, ele partilha um pouco de sua vida, de sua missão e as convicções que norteiam o seu ministério.

O LÁBARO – 50 anos de sacerdócio celebrados no dia 21 de setembro, num ano tão significativo para nós, católicos, por ser o Ano da Misericórdia. O que foi semeado e o que foi colhido nesse tempo?

Pe. Zezinho – Eu chego aos 75 anos e tento avaliar este período que eu acho que foi bom. Se eu for olhar as oportunidades que a Igreja me deu, que a congregação me deu, as pessoas com quem trabalhei, acho que valeu a pena. Eu não posso me queixar de não ter tido chance. Eu tive, e usei também. Então eu devo muito a quem tornou possível a minha caminhada. Quem me criticou também me ajudou muito a repensar muita coisa que eu dizia ou falava. Aprendi a dialogar muito, desde o seminário até hoje. Se eu fosse avaliar tudo isso, 50 anos de padre e 75 de idade, eu aprendi a dialogar e vivi em função disso. Aceitei a ser criticado – e mais fui criticado do que critiquei –; analisei as coisas sempre imaginando que o outro lado tinha algo a dizer. E quando não concordava, eu disse isso, mas sem ofender. Eu aprendi a discordar sem cair na discórdia. Acho que isso foi uma contribuição que eu dei aos jovens que me seguiram e também aos jovens padres. A gente tem todo o direito de concordar ou discordar, mas nunca levar isso à discórdia. O outro ainda é importante mesmo que seja meu inimigo.

O LÁBARO – 21 de setembro é o dia em que a Igreja celebra o Apóstolo e Evangelista São Mateus. Isso tem um significado especial ou foi apenas uma coincidência?

Pe. Zezinho – Foi coincidência. Na ocasião em que eu estudava nos Estados Unidos, era um dos momentos em que os bispos ordenavam. Era em setembro ou, no mais tardar, em maio. Porque nos Estados Unidos, para os seminários, era melhor a ordenação nessa época. Então, para nós, era interessante ser ordenados nessa ocasião. Mas quando penso o que São Mateus significou para a Igreja, isso fez de mim a pessoa que quer ser evangelizado e evangelizar. Para mim, a ideia e-van-ge-li-zar, repercutir, sempre foi muito importante, desde o começo do meu sacerdócio. E nesse sentido, [os esvangelistas] Mateus, Marcos, Lucas e João marcaram muito a minha vida.

O LÁBARO – O que mais motivou o senhor na decisão de ser padre?

Pe. Zezinho – Ajudar meu povo. Meu pai era paralítico, minha mãe depois tornou-se paralítica, e eu era muito ajudado pelos padres aqui desta casa (Conventinho – residência dos padres do Sagrado Coração de Jesus) – ainda não havia tudo isso que temos hoje –, que cuidava muito dos pobres da região, e sempre chegava alguma coisa para ajudar a minha mãe e meu pai. Minha mãe também trabalhava como costureira para os padres e houve um tempo em que ela foi cozinheira. Então eu via tudo isso que os padres faziam pela molecada, pelas crianças de rua, pelos grupos de jovens. Eu achava isso muito bom. Quando eu vi que eles cuidavam não só da minha mãe, mas dos doentes por perto e dos mais velhinhos, eu entendi que eu queria fazer isso também. O exemplo deles me marcou. E a bondade de alguns padres fez de mim um candidato à ideia de ser padre também para cuidar dessa gente, como eles faziam. A ideia da pobreza também me chamava à atenção, porque eles eram padres pobres, nenhum deles era preocupado com dinheiro; o que eles podiam, era para os pobres. Também não tinham dificuldade nenhuma de almoçar, de comer na casa dos pobres. Eles sabiam se misturar com o povo da vila e com os pobres. Como a minha família era pobre, eu gostei disso. Acho que essa vocação nasceu do exemplo desses velhos padres, alguns alemães e outros lá de Santa Catarina que estudavam e trabalhavam aqui. Foi o exemplo.

O LÁBARO – O senhor é mineiro de nascimento e taubateano de formação e de coração. Que traços de lá e de cá carrega na vida?

Pe. Zezinho – Acho que a musicalidade do meu pai e dos meus tios, o jeito de ser das pessoas. A minha mãe tinha esse jeito de acolher as pessoas, e a minha família também. Isso veio de Minas. A vizinhança aqui, a maioria era de Machado ou de Minas. Então a gente tinha aquele espírito mineiro numa vila paulista. Haviam muitos mineiros. Assim, eu recebi uma formação mineiro-paulistana. Porque as comidas e o jeito de falar eram mineiros, mas a escola era paulista. As professoras eram muito boas e a integração foi fabulosa. Eu tinha colegas bem paulistinhas e a gente se dava muito bem. Eu acho que isso me ajudou muito. As duas culturas marcaram muito a minha vida.

O LÁBARO – Em toda opção de vida existem provações, desafios. Para o senhor, quais foram os mais difíceis e como os superou?

Pe. Zezinho – O desafio, para qualquer pessoa que queira ser gente ou que queira viver com os outros e pelos outros, é exatamente a capacidade de integrar-se. Muita gente tem dificuldade de se integrar porque escolhe amigo só desse tipo de gente e, de certa maneira, afasta os outros que não pensam do mesmo jeito e que talvez tenham outra escala de vida. Eu, desde cedo, convivi com gente de outra religião. Na minha família mesmo tinha. Convivi com gente de outros Estados, com outra formação. E convivi bem com todos eles. Depois fui estudar em Santa Catarina, onde eu conheci a cultura italiana e a cultura alemã, e me adaptei muito bem também. Essa capacidade de con-vi-ver com o diferente marcou a minha vida e acho que foi o que também me ajudou a enfrentar o desafio de estudar em outros países, como nos Estados Unidos, na Itália, na Espanha, e ver a riqueza que cada cultura tem. Isso foi bom, foi um desafio. A tendência da pessoa é puxar para si. Eu não, eu me integrava e integrei muita gente também à nossa cultura. Tanto que a minha música atingiu tantos países porque foi uma integração.

O LÁBARO – Em algum momento pensou desistir?

Pe. Zezinho – Penso que todo jovem na fase dos 17 até 23 anos tem alguns momentos em que ele tem vontade de caminhar em outros rumos. Mas o ambiente era tão bom, tinham bons formadores e, como eu disse, aprendi a conviver com outras culturas. Estar fora de casa, longe da minha cultura, voltar… Então acredito que até intercâmbio foi bom para mim. A tentação é bem menor quando você se coloca a serviço de todo mundo e vê o valor do outro.

O LÁBARO – Como foi o tempo de estudos nos Estados Unidos? Foi uma escolha do senhor ou foi enviado?

Pe. Zezinho – Não me enviaram, essa é a coisa boa. Éramos 4 candidatos para estudar, então o provincial da época perguntou a cada um se aceitava estudar fora e qual era a preferência. Acontece que dois colegas meus tinham preferência por estudar em Roma. Mas eu lia muito sociologia já como seminarista, eu gostava também de psicologia. Eu estava lendo alguns livros de Godfrey, um padre que se dedicava às vocações. Então eu gostava muito de ler aqueles livros e percebi que havia um espaço para eu me formar em psicopedagogia, que em Roma não tinha tanto como nos EUA. Além de eu querer aprender outra língua. Eu gostaria de tentar Canadá ou EUA, porque era outra cultura que talvez ajudasse. No Brasil muita gente queria falar inglês, e também poderia aprender espanhol, pois lá tem um grupo muito grande de hispânicos. Então foi uma escolha que fiz a partir da chance que os superiores me deram.

O LÁBARO – Sendo um pioneiro na evangelização pela música, o senhor se tornou um dos padres mais conhecidos do Brasil e até internacionalmente. A fama em algum momento o incomodou ou atrapalhou o seu ministério? Como aprendeu a lidar com essa realidade?

Pe. Zezinho – De fato, ninguém estuda pra ser famoso, e se faz isso se dá mal. Eu não tinha ideia de que seria famoso. Eu sabia que, pelo estudo que fiz, lidaria com jovens. Como gostava de música, eu sabia que isso poderia me ajudar. Então, ao estudar psicopedagogia e, sobretudo estudar como lidar com a multidão, com comunicação, eu estava preparado. Com o que eu vi nos EUA e depois mesmo aqui no Brasil, eu percebi que tinha jeito para lidar com multidão, e o povo gostava. Eu era chamado, no começo pelos superiores, pelos párocos e também pelas pastorais da juventude e vocacional, para falar com os jovens. Eeu conseguia falar com multidão de jovens e eles ficavam quietos me ouvindo. Eles gostavam de me ouvir e eu gostava de estar com eles. Então, de repente, descobri que minha vocação era falar com multidão. Começaram me chamar para estádios, praças e ficava natural para mim, pois eu havia estudado a linguagem da multidão e, ao mesmo tempo, a psicopedagogia do povo, e não só dos alunos de uma escola. Descobriram que eu tinha esse talento e, com isso, veio claro o convite para a televisão, para o rádio e, de repente, quando me vi, eu já estava muito conhecido e famoso e procurado pela mídia, não só lá fora, mas da igreja. Os superiores me orientavam muito. Também conversava com amigos e advogados e gente que trabalha com povo e descobri que conseguiria isso ouvindo quem lidou com jovens. Isso me ajudou muito. Eu tinha bons amigos que sabiam trabalhar com televisão e música e foi um aprendizado de muitos anos até que comecei a perceber que tinha assimilado essa linguagem. Portanto não foi um projeto, foi um caminhar junto, e deu certo.

O LÁBARO – Então a linguagem foi um fator importante para a aceitação e para criar uma empatia, sobretudo com os jovens. A Igreja hoje carece de falar a língua dos jovens?

Pe. Zezinho – Eu falo muito isso em meus escritos. Não digo a igreja, mas alguns bispos e padres não assimilaram a língua que os jovens entendem. Você não tem que falar gíria para agradar um jovem. Eles nem esperam isso. É ridículo! Você tem que deixar que eles falem, e depois você fala com eles como adulto, sem repetir os chavões deles, mas conviver “numa boa”, como eles dizem, como adulto que ouve e deixa eles falarem, mas eles também me deixam falar do meu jeito. Eu tomo cuidado também para não ser muito “preciosista” no que eu falo, mas acessível. Descobri que se eu falasse de forma mais simples, apesar do estudo que eu tinha, dos livros que eu tinha lido, das línguas que eu falava, as pessoas mais simples, da Amazônia, do Nordeste, no Sul, da roça, iriam me entender. Com meu jeito mineiro, eu conseguia falar para campo e para cidade. Essa linguagem minha própria, mas que respeitava a linguagem da região, me ajudou muito e acho que foi de novo um aprendizado de quem ouviu. Eu chamo isso de oitiva. Ouça como esse povo aqui fala. Fale do seu jeito, mas de um jeito que esse povo aqui entenda. O povo dizia: “Ele fala quase que nem nós, mas ele sabe das coisas, ele é sabido, fala do jeito que nós entende”. O Evangelho fez isso, Jesus fez isso.

O LÁBARO – Inculturação?

Pe. Zezinho – Acho que sim. Sem dúvida, eu aprendi isso.

O LÁBARO – As suas músicas têm conteúdo preponderantemente catequético. A catequese ainda é o grande desafio da Igreja?

Pe. Zezinho – É o meu também. De toda a Igreja, de todos os papas, de todos os bispos, de todas as dioceses, de cada grupo da Igreja. Para cada escola e onde quer que existam 10 católicos reunidos, a linguagem tem que ser catequética. Catequese significa repercutir, então o que eu aprendi nos meus estudos, naquele curso, eu vou repercutir. O ato de repercutir o que já ouvi é catequese. O que eu aprendi ainda não é catequese, o que estudei ainda não é catequese, o que achei bonito não é catequese, o que escrevi ainda não é catequese. Agora, aquilo que eu recebi e que bate com o que a Igreja ensinou, eu comparo e digo com linguagem acessível ao povo, isso é catequese. Eu vou repercutir junto com o povo. É como a vela que só eu tinha no começo, mas eu passei para o outro, e para o outro e, assim, a igreja inteira ficou iluminada, como quando na Páscoa se faz isso. Porque de uma luz, todos acenderem sua luz, de um para o outro; quando chegou à meia-noite, estava tudo iluminado, porque eu fiz a minha vela repercutir. Essa é a ideia da catequese, o que eu sei passo para você.

O LÁBARO – “Não sou padre porque canto. Canto porque sou padre”. É assim que o senhor gosta de se definir. Mas a música sempre esteve entrelaçada ao seu ministério sacerdotal. Seria possível imaginar o Pe. Zezinho sem música?

Pe. Zezinho – Poderia. Eu sempre fui muito estudioso, eu poderia ser um bom professor, como fui 32 anos aqui. Eu gostava de lecionar, então seria bom. Poderia ser um escritor, porque gostava, preparei-me para isso. A música veio por acidente, mas, uma vez que deu certo, eu aproveitei. Porém, eu nunca imaginei que seria cantor ou compositor. Ela veio, e, como veio, incorporei à formação que eu tinha. Dá para imaginar o padre Zezinho sem música. No momento, por exemplo, não estou mais gravando e nem fazendo show, e o padre Zezinho continua escrevendo, falando. Então acho que a música é uma parte da minha vida, mas não é a maior parte. Apareci mais por causa disso, mas eu não sou padre cantor. Tem gente que a vocação é ser cantor. Não é meu caso. Eu sou padre formador, comunicador, escritor e, no meio, quando me pediam eu cantava também. Mas por isso que eu dizia que não sou um padre cantor. Sou um padre que às vezes canta, mas eu canto porque sou padre. Não fiquei padre para cantar. Isso foi um acidente.

O LÁBARO – Como estudioso, professor e artífice da comunicação, como o senhor vê a comunicação da Igreja hoje, especialmente no Brasil?

Pe. Zezinho – Melhorou muito. As revistas católicas estão muito melhores, os jornais católicos estão melhores, nas redações existe muita gente com know-how, as editoras têm produzido bons livros e bons CDs também, apareceram muito bons compositores, músicos que fazem músicas benfeitas. É claro que existe aqui e acolá música malfeita, mas não quer dizer que todos façam isso. A maioria está fazendo coisa boa. Como é fácil fazer música, muita gente faz e faz malfeito. Mas têm profissionais que fazem música muito benfeita, gravam muito bem, tem vozes bonitas, preparadas e educadas. E há padres que pregam muito bem. Estudaram, se prepararam. E é gostoso ver alguns padres jovens ou mais idosos pregando muito bem. Então melhorou muito a comunicação nas igrejas, as pregações no rádio e na televisão. Mas existe o outro lado: aqueles que gostam de aparecer e que às vezes dá para ver que não estudaram, não se prepararam o que foram falar no rádio e na televisão, improvisaram – ainda tem muito padre que improvisa, e o povo sabe. E há também aquele que canta sem ensaio, sem se preparar. Mas eu diria que a maioria está começando a levar a sério. Por prudência, eu sempre levava grandes cantores e bons músicos para fazer o show ficar bonito. Meu assunto era pregar. Eu nunca pus a música em primeiro lugar. Tanto é verdade que eu pregava, depois eu saia, deixava os jovens aparecer na frente. Eles cantavam ao meu lado e não atrás. Eu não era o cantor número um, mas era o pregador número um. Mas depois os jovens também podiam pregar. Então eu ia para trás e eles ficavam na frente. Eu nunca fui o padre que o holofote iluminava o tempo todo. Eu fugia do holofote e mandava mostrar os jovens e o povo. Desde o começo deixei muito claro que quem canta no meu show são meus artistas. Eu prego. E o povo nunca esqueceu disso: “o padre Zezinho é pregador, ele é catequista. Agora, os meninos dele cantam”. Outros padres não usaram o mesmo esquema, eles eram cantores e pregadores. É direito deles. Eu não era assim.

O LÁBARO – O senhor compôs muitas músicas falando de Maria e, recentemente, compôs o hino do jubileu de 300 anos de Aparecida. Qual o sentimento de participar dessa história?

Pe. Zezinho – Sabe que eu nem tinha pensado nisso? Porque eu tinha a intenção, já com a vinda do Papa 3 anos atrás, de fazer músicas na linha do documento de Aparecida e, como estávamos nos preparando para 2017, porque eu trabalho em Aparecida, estou sempre lá, sou muito amigo dos padres redentoristas, eu tive a ideia de fazer uma opereta ou musical sobre Nossa Senhora. Eu achei que poderia chamar Aparecida, O Musical. Já tinha prontas essas músicas. Aí quando o padre João batista e outros amigos redentoristas me disseram: “você não vai fazer uma música?” Eu falei: “tenho algumas já”. Mostrei quatro que eu achava que tinha mais a ver com Aparecida e eles gostaram muito e escolheram duas ou três. Então, 300 anos de Aparecida já estava composta há muito tempo, só não tinha lançado. A Editora Paulinas disse: “vamos fazer o seguinte: nós gravamos e damos o direito para o Santuário, para eles fazerem o que quiser”. Eu disse que estava ótimo. Então foi uma contribuição minha para as Paulinas e das Paulinas para Aparecida. Portanto eu não fiz música nenhuma para 2017 e para os 300 anos, eu tinha feito músicas sobre a devoção à Nossa Senhora, mas nem tinha pensado como seria mais tarde.

O LÁBARO – O que significa ser um padre do Sagrado Coração de Jesus?

Pe. Zezinho – Essa devoção ao Coração eu herdei da minha mãe. Já em Minas, os padres de lá eram também dos Sagrados Corações, mas não da minha congregação. Quando viemos para cá, eram os padres do Sagrado Coração de Jesus. A minha mãe era muito devota e sempre rezava ao Sagrado Coração de Jesus. Ela era muito mineira, cabocla. Então eu escutei isso a vida inteira: “O Sagrado Coração de Jesus vai abençoar você, você vai lá servir ao Coração de Jesus”. Para ela, era mística. Eu vi isso aqui também, e batia com o que minha mãe ensinava e com o que eu via no Apostolado da Oração, Apostolado da Reparação. E eu cresci gostando disso. Quando fui para o seminário, vi que a ideia do Padre Dehon era boa e eu comecei a escrever sobre a ideia de um coração para amar, um coração para servir. Então a ideia do coração que serve sempre mexeu comigo, e eu gostava disso. O Coração de Jesus era todo do povo. Depois, até o símbolo que comecei a usar, vindo da Alemanha (mostra a cruz que carrega no peito com o desenho de um coração vazado, que se tornou símbolo da congregação dos padres dehonianos), este coração não está mais aqui, foi tirado, tem um buraco aqui, pois foi dado ao povo, está no meio do povo e as cruzes foram amenizadas. Então vamos suavizar as cruzes do povo e dar o coração paro o povo. Se procurar meu coração, não está aqui, está no meio do povo e foi o que Jesus fez também: “Aprendei de mim que sou manso e humilde de coração…”. Essa mística sempre mexeu comigo e ascendeu em mim o desejo de querer ser padre e pregar sobre a ternura, a compaixão e o coração do povo.

O LÁBARO – Se não fosse padre o que o senhor seria ou gostaria de ser?

Pe. Zezinho – Padre. Eu gosto. Desde menino eu queria. Se eu não fosse eu gostaria de ser. Se não sobrasse nenhuma chance ou se a Igreja não me aceitasse como padre, provavelmente eu seria educador, que é a vocação que eu também tenho.

O LÁBARO – O senhor considera ter, como diz São Paulo, combatido o bom combate? Se sente realizado por tudo o que fez e continua fazendo?

Pe. Zezinho – Eu sou grato a Deus pelas chances que eu tive, como disse na conversa inicial. Eu tive mais chances do que outros, visitei mais de 55 países, preguei por lá, as pessoas acreditaram em mim. Então sou muito grato pelo que ganhei. Até fiz uma canção sobre isso: “eu não mereço, mas agradeço”. Deus me deu essa graça e eu tenho consciência de que se fiz algum bem, foi bom; onde eu errei, quero corrigir. Esses anos todos eu vivi ouvindo a Igreja, ouvindo os bispos, defendendo a Igreja e os bispos. Se algum bispo errou, todo mundo erra, se algum padre errou, todo mundo erra. Mas eu olho os bons, os que deram a vida, os que não desistiram nunca, os que sofreram as consequências de tudo isso. Convivi muito bem com Dom Luciano, com Dom Helder [Câmara], com Dom Paulo [Evaristo Arns], convivi com irmã Dulce, convivi com gente que eu vi que deram a vida pelo povo. Os exemplos que eu tive marcaram muito. Então não foi por falta de exemplo. Eu ganhei muito. Minha mãe era uma mulher muito santa e muito dedicada aos outros, e acho que tudo isso me fez compreender o sentido da vocação.

Fonte: O Lábaro – edição de outubro de 2016

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