Ano Santo e as Indulgências

O Papa Francisco, pela bula Misericordiae Vultus, proclamou um ano santo extraordinário para refletirmos sobre a misericórdia de Deus. O ano santo da Misericórdia será iniciado no próximo dia 8 de dezembro, data em que se comemoram os cinquenta anos de conclusão do Concílio Vaticano II. Isto é muito significativo, pois nesse Concílio, por inspiração do Santo João XXIII, que o convocou, a Igreja se dispõe a superar posturas de severidade de quem condena erros para enfatizar o remédio da misericórdia de Deus, que é concedido a todos.

O ano santo inspira-se no ano jubilar, segundo a tradição bíblica do Antigo Testamento. De maneira análoga ao sábado, o sétimo dia da semana, dia de descanso consagrado ao Senhor, assim também, de cinquenta em cinquenta anos, ou seja, após um período de sete “anos sabáticos”, celebrava-se o ano seguinte como um ano jubilar; ano de libertação, de perdão, de reconciliação (cf. Lev. 25, 8-66). O ano santo proclamado pelo Papa Francisco é extraordinário porque o último ano santo celebrado pela Igreja foi em 2000, recordando o mistério da encarnação e nascimento do Filho de Deus, que assumiu a natureza humana. O ano santo da Misericórdia será concluído na solenidade litúrgica de Jesus Cristo, Rei do Universo, no dia 20 de novembro de 2016.

Sendo o ano santo um período em que se enfatiza o perdão, a libertação, a misericórdia, a Igreja propõe, de modo especial nessas ocasiões, as indulgências. Por serem, com frequência, mal compreendidas, refletiremos, brevemente, sobre seu significado. Por vontade de seu Senhor, a Igreja é enviada como embaixadora e dispensadora do perdão que Deus concede. Diz Jesus: “Como o Pai me enviou, também eu vos envio. A quem perdoardes os pecados eles serão perdoados; a quem os retiverdes, lhes serão retidos” (Jo 20, 21.23, ver também 2 Cor. 5,20). Mesmo após obtermos o perdão de nossos pecados, as consequências negativas que eles geraram continuam como um prejuízo comum. Por exemplo, se difamamos uma pessoa, mesmo que nos arrependamos, nos confessemos e recebamos o perdão sacramental, as consequências do pecado cometido continuam e são prejudiciais a quem foi difamado e a todo povo de Deus, que é ferido pelo pecado de cada um. Assim como todo pecado cometido tem suas consequências negativas no âmbito da Igreja e da humanidade, assim também todo ato bom repercute positivamente em benefício de todos. Aqui está o princípio das indulgências.

Podemos assim dizer que as indulgências constituem-se como atos bons, indicados e praticados sob as condições dadas pela autoridade da Igreja e visam reparar as consequências de pecados já perdoados. Existem pecados que podem ser imediatamente reparados; por exemplo, quem se apropriou de algo que não lhe pertencia pode, ao devolver, reparar o erro cometido. Outros pecados, tais como a difamação, o homicídio, a infidelidade, etc, uma vez praticados, não há como repará-los senão por uma ação indulgenciada, ou seja, por uma ação de clemência, de benevolência que propõe um ato bom a ser realizado com a finalidade de reparar as consequências do mal causado pelo pecado. Com esse sentido de reparação das consequências causadas por pecados já perdoados, as indulgências podem concretizar-se de maneiras diversas desde uma simples oração, até atos mais exigentes como visitar ou auxiliar um enfermo, socorrer um necessitado, ajudar uma instituição de caridade, custear um projeto de benefício comum, ajudar ou adotar uma criança desamparada, etc.

As indulgências podem ser parciais em relação a uma reparação especifica ou plenária, aplicada de modo comum. Pode ser em nosso próprio benefício ou aplicada em função de nossos irmãos, mesmo que falecidos; pois, nem a morte nos separa do amor de Cristo (Rm 8, 38-39). Unidos a Cristo pelo Batismo, somos membros de seu corpo e tudo o que fazemos repercute em função de todo o corpo (I Cor. 12,26-27). Em relação a esse ministério de perdão e de remissão de culpas que Jesus confiou à Igreja, podemos recordar o que Ele diz: “Tudo o que ligardes na terra será ligado no céu, e tudo o que desligardes na terra será desligado no céu” (Mt 18,18). A misericórdia de Deus é assim manifestada pela Igreja que está a serviço daquEle que a enviou como dispensadora de sua graça. Acolhamos a misericórdia!

Dom Wilson Angotti
Bispo da Diocese de Taubaté

Fonte: O Lábaro – novembro/2015

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